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O país das quadrilhas políticas. Por Edmilson Siqueira

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Agora ficou provado definitivamente que a guerra de Lula e Bolsonaro não é entre eles. É contra Sergio Moro. A união do Centrão com lulistas e bolsonaristas para promover uma Comissão Parlamentar de Inquérito contra o ex-juiz, por fatos totalmente desprovidos de qualquer crime, demonstra cabalmente que Moro é o obstáculo a ser retirado do meio do caminho para que o Brasil continue a ser a pátria da corrupção, o reino dos aproveitadores e porto seguro para as quadrilhas de colarinhos brancos, pretos, vermelhos, amarelos ou vivamente coloridos. Ganhando Lula ou Bolsonaro, o importante é que a impunidade e a roubalheira continuem. Esse é o acordo tácito entre eles.

A CPI morreu no ninho exatamente por não ter objeto de investigação, já que ela não pode meter o bedelho em contratos privados. Sergio Moro revelou seus salários na iniciativa privada (nada além do que ganha alguém qualificado como ele, nos EUA e muito menos do que Lula ganhou por “palestras” das empreiteiras envolvidas na corrupção, palestras, aliás, que ninguém viu…), mas mesmo antes da revelação de Moro, já eram vários os artigos ululando por aí que a revelação não encerraria a polêmica, como se houvesse polêmica no caso. E depois, também, com a esquerda petista e a direita bolsonarista querendo manter a única “acusação” contra Moro em evidência, pois não encontraram outra.

Moro, como se sabe, trabalhou dez meses na iniciativa privada, orientando uma empresa internacional que atua, entre outras, na área da segurança jurídica, o chamado “compliance”. Esteve lá para produzir condutas e processos que evitem que grandes empresas sejam vítimas da corrupção. E, claro, ganhou salários por isso, como qualquer outro empregado da empresa. Não teve relação com nenhuma empresa corrupta que foi investigada na Lava Jato (exigência que ele colocou no contrato), não participou de reuniões com elas e jamais as aconselhou diretamente a adotar esse ou aquele procedimento, pois tal ação não fazia parte do seu trabalho.

Pois bem, as quadrilhas políticas do Brasil, tendo à frente o PT e com adeptos na imprensa em várias folhas que circulam por aí, impressas ou digitais, resolveram que havia crime na conduta de Moro por trabalhar em uma empresa privada que, em um de seus braços – longínquo do qual Moro trabalhou, com outro CNPJ – tem lá entre seus clientes uma empresa investigada na Lava Jato e que procura agora se acercar de boas práticas para não corromper novamente.  A CPI morreu, mas o assunto vai continuar sendo explorado com a velha competência da esquerda, agora auxiliada pela raivosa direita bolsonarista.

A farsa do discurso petista não é novidade. É esse tipo de farsa que vem sendo usado desde a descoberta do primeiro grande crime do PT no poder, o Mensalão que (lembram-se?) Lula tentou transformar em “caixa 2” por ser então crime menor e punível apenas com multa. Não colou, embora o STF tenha sido bonzinho com Lula e Zé Dirceu no julgamento, e o PSDB, talvez já olhando pros seus pés de barros, se acovardou e não foi em frente com um pedido de impeachment por crime de corrupção.

E, no poder, Lula e seu PT continuaram a farsa de uma economia forte (o que só ocorreu durante dois anos por conta do mercado internacional e não por méritos de uma política vitoriosa aqui); com a farsa de lutarem pela democracia enquanto lambiam os sacos de ditadores de esquerda; com a farsa de liberdade de imprensa enquanto conspiravam para promover a censura e “fiscalizar a mídia” como eles gostam de falar e com a farsa de melhorar a Educação, inaugurando universidades sem suporte financeiro e deixando o ensino de base – que necessitava melhorar a qualidade urgentemente – às moscas.

A farsa lulopetista prosseguiu depois nas eleições, com o voto comprado de milhões de brasileiros através dos programas sociais que viraram moeda de troca eleitoral, garantindo estrondosas vantagens de votos nos rincões pobres do país, com benefícios sempre ameaçados de acabar pela propaganda petista, caso o PT não continuasse no poder. Garantida mesmo só a eternização da pobreza.

Com o estouro do Petrolão – o maior caso de corrupção que o mundo já viu – a farsa petista se debruçou nas filigranas jurídicas brasileiras – e as há para todos os gostos, já que são os próprios bandidos que escrevem as leis nesse país – para negar qualquer crime mesmo diante dos caminhões de provas, inclusive com a devolução de bilhões de reais roubados. E, claro, com os bilhões roubados não devolvidos é possível convencer muita gente da inocência dos culpados. Nos Estados Unidos, advogados não podem receber dinheiro oriundo da corrupção para defender seus clientes. É crime, obviamente, de receptação. Aqui pode tudo.

A farsa do processo teve boa acolhida na nossa casa maior da Justiça, onde alguns ministros a acolheram de modo esdrúxulo, mudaram de opinião, afrouxaram prisões depois de sentenças definitivas emanadas de colegiados e liberaram geral para que a farra política e financeira brasileira voltasse a frequentar os altos salões da sacanagem institucionalizada. Por quatro vezes, o STF confirmou os processos e sentenças de Moro, mas, de repente, virou casaca e disse que Moro era suspeito, baseado em provas podres, conseguidas ilegalmente e que não se sabe se foram manipuladas. Um horror jurídico. E moral. Disseram ao Brasil que o crime compensa.

Mas não bastava a liberdade promíscua das gangues todas que trabalham em Brasília e adjacências. Era preciso garantir que a punição exemplar com a qual foram ameaçadas desaparecesse totalmente do cenário brasileiro, de modo a dar tranquilidade às organizações criminosas que usam partidos como fachadas, para continuarem operando sem temor.

Assim, a batalha prosseguiu no Congresso, onde leis e mais leis foram produzidas em curto espaço de tempo, deturpando projetos originais, “jabutizando” outros de modo que o resultado final fosse sempre a impunidade garantida pela letra fria da lei. Para tanto, contaram com um governo que se elegeu sob o signo do combate à corrupção, mas, em menos de dois anos, mostrou que tudo não passava de uma farsa também e, rapidamente, aderiu ao baile dos horrores com direito a mergulhos em tanques cheio de moedas de ouro. A “famiglia” Bolsonaro, viciada em rachadinhas, hoje é apenas uma parte das quadrilhas que infestam o país e dele sugam o sangue dos trabalhadores em forma de impostos que transformam em ganhos pessoais. A promiscuidade no Ministério da Saúde, que a revista Crusoé mostra na sua última edição, é prova que a farra continua e o dinheiro público continua passando do Tesouro para as mãos sujas de sempre. Ou seja, o roubo do dinheiro público, que teve um curto período de trégua, já voltou com tudo, muito mais forte, muito mais protegido e com possibilidades de longa vida totalmente impune.

Garantida a boa vida dos bandidos todos, era preciso dar vazão à vingança. Nada mais natural, para os quadrilheiros, que alguém fosse responsabilizado como símbolo das agruras pelas quais tiveram de passar. E, claro, ao mesmo tempo, eliminar qualquer possibilidade de a busca pela honestidade voltar a balizar o futuro do Brasil. Foi assim que surgiu a ideia de criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para criminalizar a conduta de Sergio Moro, e condená-lo, impedindo que ele dispute a presidência da República.

Sergio Moro era primeira instância. Depois da sentença dele, o processo passa por uma revisão do TRF, onde três desembargadores o analisam e avalizam ou não o processo e a sentença. Depois, o processo sobre para o STJ, onde cabem outros recursos e tudo é novamente analisado. O STF, instância final, também entrou na parada e aprovou tudo. Depois, resolveu mudar de ideia e o único culpado disso tudo é Moro. Parece piada, mas não é. É falta de caráter mesmo de algumas “autoridades” jurídicas brasileiras.

O Brasil não é para amadores, se diz por aí. E não é mesmo. Aqui, as quadrilhas são profissionais, os bandidos têm longa tradição e experiência e o país está condenado a ser um eterno bananão com o povo sendo roubado e explorado diariamente pelas famílias que se aboletam no poder, seja no Executivo, no Judiciário ou no Legislativo.

Muito mais do que as quadrilhas de roubo de cargas, de roubo a bancos, de milícias que exploram bairros inteiros, de falsificadores de moedas, de sequestros e de tráfico de drogas, o Brasil é o país das quadrilhas políticas. São delas os melhores esquemas de impunidade, podem atuar à luz do dia, não precisam andar armadas e ainda recebem altos salários por fora da profissão de larápio do erário. E se algo tiver alguma possibilidade de dar errado, elas mesmas fazem novas leis para que tudo continue impune.

É ou não é o melhor custo-benefício de todas as quadrilhas que há por aí?

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Edmilson Siqueira é jornalista

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