ATÉ AMANHÃ SE NÃO CHOVER

Até amanhã, se não chover. Por José Horta Manzano

… As terras negras, férteis e fofas permitem que o arado se afunde fácil e rasgue sulcos generosos, que permitirão a semeadura anual. Essa mesma fofura, no entanto, já causou sérios problemas a exércitos estrangeiros que tentaram invadir a região…

ATÉ AMANHÃ SE NÃO CHOVER
“…Até amanhã se Deus quiser Se não chover, eu volto pra te ver, ó mulher…”

 É quase indecente mencionar versos de Noel Rosa, o grande poeta de nossa música, em tempos de guerra, com gente morrendo e um país sendo destruído.

É que, ao condenar a barbaridade que está sendo cometida pelos russos, a gente se sente do lado certo da história. E quem está do lado certo tem direito a certa licença poética. Na guerra desencadeada pelo orgulhoso Putin, tudo o que puder atrapalhar o exército agressor é motivo de contento.

As terras negras que cobrem a Ucrânia e o sul da Rússia são extremamente férteis. Aqueles vastos espaços onde se planta trigo são responsáveis pela garantia alimentar não somente de russos e ucranianos, mas também de numerosos países ao redor do globo.

Só no norte da África (o Oriente Próximo), o trigo de lá garante o pão de 100 milhões de egípcios, 45 milhões de argelinos, 12 milhões de tunisinos e quase 40 milhões de marroquinos, num total de quase 200 milhões de indivíduos.

As terras negras, férteis e fofas permitem que o arado se afunde fácil e rasgue sulcos generosos, que permitirão a semeadura anual. Essa mesma fofura, no entanto, já causou sérios problemas a exércitos estrangeiros que tentaram invadir a região.

Napoleão, no começo do século 19, foi um dos primeiros a se afundar naquela terra. A região serviu de barreira natural, ao servir de atoleiro para cavalos e canhões. Mais de um século depois, Hitler voltou a cometer o mesmo erro. Imaginando uma conquista fácil, se afundou nas terras russas e ucranianas.

Ao invadir a Ucrânia em fevereiro último, Putin imaginou trilhar uma avenida asfaltada. Acreditava que, em questão de dois ou três dias, Kiev cairia e o exército russo seria acolhido por uma população entusiasmada. Deu tudo errado.

As estradas estavam minadas. As pontes tinham sido explodidas. O exército ucraniano estava emboscado em cada vilarejo, atrás de cada árvore, um pesadelo.

Putin já avisou que está preparando operação militar importante para assenhorear-se da região do Donbas (Leste da Ucrânia). Impassíveis, os serviços meteorológicos informam que temos pela frente uma semana de chuva pesada, que deverá transformar a terra fofa em lama preta.

Aliviados, os ucranianos agradecem aos céus.

___________________________________________

JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

_________________________________________________________

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter