Potenzmittel

Potenzmittel. Por José Horta Manzano

Potenzmittel

“Problemas de ereção?
O governo brasileiro aprova remédio contra a impotência para o Exército”

O Frankfurter Allgemeine, jornal alemão de referência, não perdoou. Além da manchete reproduzida acima – ilustrada com sugestiva foto que sugere um Bolsonaro submisso aos fardados –, contou o resto da história.

“Além das acusações de corrupção, o governo do presidente Jair Bolsonaro é alvo de zombaria e de sátiras. O Exército teria adquirido, em grande quantidade e a preços exorbitantes, comprimidos para a virilidade.”

O diário alemão não foi o único a caçoar. A mídia europeia em peso, num espírito situado entre a surpresa e a ironia, também deu a notícia.

O fato é que, nesta parte do mundo em que vivo, nenhum plano de saúde – do mais básico ao mais sofisticado – cobre remédios contra a impotência. Há de ser porque as autoridades da Saúde Pública consideram que disfunções eréteis decorrentes do envelhecimento não são consideradas patológicas, mas simples fatos da vida.

Por aqui, quem desejar revigorar seu desempenho sexual tem de consultar o médico, pedir receita e comprar o remédio pagando do próprio bolso sem direito a reembolso. Não sei se no Brasil os planos médicos são mais camaradas. Parece que, entre nossos fardados, é assim que funciona.

Seja como for, a compra de milhares de comprimidos desse tipo de remédio pelas Forças Armadas da República do Brasil pega mal pra caramba. Dá ensejo a duas reflexões.

Ou os engalonados de mais idade estão usando dinheiro do povo para seu conforto na cama; ou os recrutas, que deviam ser o retrato da virilidade e do vigor das Forças, estão dando precoces e inquietantes sinais de impotência.

Ora, minha gente, as Forças Armadas de um país não somente têm de ser fortes, mas também têm de parecer fortes. Virilidade é termo que combina com força, coragem, destreza, masculinidade. Distribuir à tropa comprimidos para combater problemas de ereção é um baita arranhão na virilidade dos uniformizados. A encomenda desses remédios, feita em escala industrial, passou um rolo compressor por cima da imagem da tropa. Os brios daquela juventude armada deve ter levado um baque.

Agora todos os brasileiros têm o direito de se preocupar. Suponha por um momento que, amanhã, nosso território fosse invadido. Como é que ia ficar? Quem nos defenderia? Um exército de brochas?

Não acredita? Pois até mês e pouco atrás, ninguém no mundo acreditaria na invasão da Ucrânia. No entanto, taí…

pandora

Observação

O título faz alusão ao nome carinhoso que a língua alemã dá a esse tipo de medicamento: pílulas de potência.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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2 thoughts on “Potenzmittel. Por José Horta Manzano

  1. Caro Manzano,
    É o famoso dizer que quando parece que se viu tudo, lá vem mais um…
    Viagra na tropa!
    E não parou por aí: existe denúncia de próteses penianas também serem compradas pelo nossa saudosa– a considerar os meios que agora pretendem lhes dar vigor – forças armadas.
    Coisas assim nos fazem pensar que há falta de potência na tropa ou, para atender aos desejos do “presidente” de plantão mantê-las acesas.
    Agora, revigoradas o golpe vem!
    E tudo justificado, como se fosse normal; ora, se um cidadão tem problemas de saúde, seve para que nas forças armadas?
    Apenas para contar como comandante ou número?
    Chiste a parte, lá vai nosso suado dinheirinho, em busca de sermos ridicularizados mundo afora.
    Chato, pior é conviver com outros que o consideram um “mito”.
    Ficará na história, mais um que apenas passou, sem nada útil a acrescentar, no nosso eterno “país do futuro”.
    Inté!

  2. Caro amigo. Nossas FFAA levam a sério seu papel constitucional, que, sob o capitão, resume-se a phoder um país inteiro. 35.000 comprimidos não dão nem para o primeiro dia de trabalho. Antes do fim do mandato do estúpido, as FFAA comprarão o laboratório.

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