BRASIL

Brasil sem filtro. Coluna Carlos Brickmann

BRASIL
                         Brasil, em pinceladas
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2022

Comemoramos ontem o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa – que, na verdade, deveria chamar-se Dia Mundial da Liberdade de Expressão. Como nos situamos nesse campo, após vinte anos em que se alternaram no poder os dois políticos que, até agora, são os principais candidatos à Presidência?

Entre 180 países, informa o World Press Free Index da Repórteres sem Fronteiras, o Brasil está em 110º lugar em liberdade de imprensa (e, portanto, na liberdade de expressão de nossos cidadãos). E se classifica entre as dez piores nações da América Latina.

O presidente Bolsonaro promete cassar as concessões da Rede Globo, embora dificilmente vá encontrar base legal para a medida; e com frequência seus apoiadores agridem repórteres que tentam entrevistá-lo, sem que ele ou seus guarda-costas se movam para impedir os atos de violência. O ex-presidente Lula promete insistentemente criar uma nova censura, com o nome-fantasia de “controle social da mídia”.

Em ambos os casos, o objetivo é impedir que sejam noticiados fatos incômodos aos dois poderosos. Bolsonaro vai mais longe: costuma proteger documentos com a possibilidade de incomodá-lo com decretos de sigilo de cem anos. Quais são esses documentos tão incômodos? Os gastos do presidente com seu cartão pessoal, por exemplo; seu registro de vacinação; ou as visitas ao palácio dos pastores evangélicos acusados de liberar verbas do Ministério da Educação– que, acusam prefeitos, chegaram a pedir propina em barras de ouro.

Para quê?

Que poderão conter esses documentos de tão grave – tanto que só poderão ser vistos pela rainha Elizabeth, no século 22? Cem anos de sigilo, de total segredo, talvez se definam melhor com outra frase: cem anos de perdão.

Temos vice

A responsabilidade não é dos atuais governantes, nem do atual ocupante do cargo: é coisa que vem de longe, uma tradição que possivelmente poderia ser modificada, já que os tempos mudaram.

Mas o fato é que temos um vice-presidente da República. O vice-presidente dispõe de um palácio para morar, com criadagem completa, alimentação, fardas lavadas, carro oficial e seus respectivos motoristas, combustível, passagens, assessores, etc., etc., etc. Seu trabalho é substituir o presidente sempre que for necessário. Mas agora, quando o presidente da República vai à Guiana, o vice não pode assumir: se ocupar a Presidência, torna-se inelegível, e perde a chance de disputar com Manuela d’Ávila, do PCdoB, a vaga do Senado pelo Rio Grande do Sul. Estando no Brasil, teria de assumir. Portanto, também vai viajar ao Exterior.

Sai caro: há todo um protocolo de seguranças, custo de diárias, etc. Mas o país é rico, os cidadãos pagam tudinho, e o problema está resolvido.

Temos vice do vice

Na ausência do presidente e do vice, diz a Constituição, deve assumir o presidente da Câmara dos Deputados. O presidente da Câmara é bem tratado pelo país: tem seu imóvel funcional, completo, amplas verbas para tudo que se quiser imaginar, pode contratar assessores, viajar, frequentar bons restaurantes; tem carro oficial com seus motoristas, seguranças, nada por sua conta. Além do imóvel funcional, dispõe da mansão da Presidência da Câmara, com todas as despesas pagas, boa cozinha, bebidas de qualidade para tornar mais agradáveis todas as reuniões. Mas, no momento de assumir a Presidência da República, seu dever constitucional, já que o vice-presidente não estará no país, ele não está disponível: caso assuma, não poderá se candidatar à reeleição. Estando no Brasil, é seu dever assumir. Então, dá um jeito de viajar ao Exterior, bem acomodado, bem assessorado, sem problemas financeiros.

Sai caro, mas o caro leitor vai pagar tudinho. E o problema se resolve com a posse do presidente do Senado, que, não sendo candidato à reeleição, não coloca seus problemas pessoais acima do dever.

Resumo da história

Para que o presidente da República viaje, cumprindo sua função, o país precisa pagar mais duas viagens internacionais para o vice e o presidente da Câmara, cada com sua comitiva, diárias, etc. E, cá entre nós, com o avanço das comunicações, é mesmo essencial manter toda essa estrutura de vice, palácio e tudo, para que o país continue a tocar sua vida?

Putin e seu vice

Veja as fotos atuais de Putin: não aparenta boa saúde. O jornal americano New York Post garante que Putin será operado de câncer em breve. Nesse período, seria substituído por Nikolai Patrushev, chefe do Conselho de Segurança da Rússia. Como em tempo de guerra a primeira vítima é a verdade, não há certeza sobre nada. Mas Patrushev é descrito como mais duro que Putin. O governo russo nega que Putin tenha problemas de saúde.

Tudo é possível

Título divulgado pela CNN de Portugal, no último sábado, às 20h22: “Comandante russo acorda morto na Ucrânia”.

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