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Torcendo contra. Por Silvia Zaclis

… Por isto eu vou continuar torcendo para o Brasil dar certo.Mesmo que não seja com a Seleção dos meus sonhos. Na política e no futebol…

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Sempre gostei de futebol, mas só dá para trocar ideias com amigos do mesmo time; as torcidas em geral andam muito chatas. Concordo quando dizem que o esporte pode até ser profissional, mas a torcida é amadora.

Por muitos anos, sempre que eu me identificava como torcedora do Santos, ouvia: “… também, geração Pelé”…

E se fosse? Existe algo irregular ou indecoroso em se empolgar com um time que tinha o melhor jogador da história? Quais critérios as pessoas usam para escolher seus times e sei lá mais o quê?

Gosto de ver o Neymar jogar, ele foi sensacional no Santos, arrasou na Europa. Não vou entrar nessa de desejar que se arrebente na Copa porque votou no Bolsonaro ou porque é mascarado, ou porque cai quando não deveria ou porque é milionário (sim, há quem o culpe disso também). Também torci para o Daniel Alves fazer aquele gol de meia bicicleta no jogo contra a Coreia do Sul.

Espernear contra a convocação é um direito de todos. Tem que perguntar para o Tite por que o chamou. Mas a verdade é que o sujeito foi convocado, está lá e está jogando. Quero mais é que ele faça ótimas partidas.

A razão é cristalina: quando o Brasil vence, todos ficam felizes, inclusive – desconfio – os que se alegraram com a contusão do Neymar, odeiam o Dani Alves e sei lá mais quem. Então, a atitude lógica – me parece- seria torcer a favor, e não contra.

Essa chatice que contamina causas pretensamente cívicas me faz pensar no embate do interesse coletivo com o individual.

Digamos que a economia se recupere e cresça, cresça pra valer. Desemprego zero, inflação mínima, moeda forte, salários em alta etc. Imaginemos que isso aconteça no próximo governo.

Será que aqueles que não aceitam a vitória do Lula, que pregam por golpes e sei lá mais o que, vão querer sair do país porque não admitem enriquecer durante um governo petista?

E quanta gente há que se manteve próxima do atual presidente por quatro anos e hoje –  de repente, não mais que de repente, como diria o poeta –  faz questão de manifestar publicamente seu afastamento.

Esses, evidentemente, optaram pelo individual sobre o coletivo, mas aí é outra história.

Voltemos, pois, ao futebol.  Imagine que o Brasil continue vencendo na Copa! Que venha o Hexa! Chegamos à semi com vitória por dois a zero… gols de Neymar. E na grande final, o placar seja mais modesto, mas maravilhoso, redentor, mesmo para quem espera o Hexa há 16 anos…  apenas um a zero. Gol de  Dani Alves.

E então? Será que os haters (peço licença à Língua Pátria) vão comemorar a vitória da Seleção? Poderão eles aceitar uma conquista construída pelos pés que, em sua opinião, não deveriam estar chutando bola lá no Catar? É lícito que eles se sintam campeões?

Como alguém me disse outro dia, o problema de estar sempre lutando contra monstros é você se tornar um deles.

Por isto eu vou continuar torcendo para o Brasil dar certo.Mesmo que não seja com a Seleção dos meus sonhos. Na política e no futebol.

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SILVIA ZACLISÉ JORNALISTA

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