juros

Caminho certo. Por Edmilson Siqueira

… Como se vê, há gente que parece ser sensata no governo e que conhece as atitudes que, ao invés de complicar a situação (como os discursos de Lula) indicam um caminho para a harmonia. Depois de uma discussão na sociedade, as novas regras para um arcabouço fiscal podem chegar ao Congresso já maduras, adiantando a aprovação no Legislativo…

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[ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DA ROSE –
https://blogdarose.band.uol.com.br/ – GRUPO BANDEIRANTES
Edição de 15 de fevereiro de 2023]

Essa discussão sobre taxas de juros que já descambou até pra baixaria – um sindicalista chamou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de “canalha” e deputados petistas também baixaram o nível contra ele – pode ser muito boa para o Brasil se entrar no rumo que deve entrar.

Até porque trata-se de assunto eminentemente técnico, onde a política só pode entrar se houver recursos para tanto. Explico: baixar a taxa de juros no grito, sem um cenário favorável nos cofres públicos, pode simplesmente fazer a inflação disparar. É o que dizem, pelo menos, vários economistas que conhecem o problema, entre eles, Henrique Meirelles, ex-presidente do BC durante os oito anos do governo Lula.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi quem iniciou a discussão e o fez de modo totalmente errado. Ao invés de conversar com seus pares da área econômica – Fernando Haddad e Simone Tebet já dariam pro gasto – para depois vir a público, talvez com uma opinião mais sensata, ele preferiu subir no palanque de novo para eleger os juros altos e o presidente do BC como seus inimigos e responsáveis por impedir que ele aplique suas políticas públicas que demandam gastos muito acima da atual capacidade do país.

E, claro, a atitude destrambelhada de Lula causou problemas no mercado, com reações na bolsa e na desvalorização do real frente ao dólar.

Mas quem começou a pôr panos quentes nessa discussão que só prejudicaria o Brasil foi exatamente o presidente do BC. Sem demonstrar que estaria cedendo às pressões, ele elogiou Haddad, disse que é preciso ter paciência com o novo governo e que está disposto a ir ao Congresso quantas vezes for necessário para explicar sua atuação no BC.

Aliás, foi lá hoje, 15,  mesmo, para participar da sessão solene do Congresso Nacional para celebrar os 130 anos do Tribunal de Contas da União (TCU). E, em discurso durante a cerimônia, Campos Neto defendeu que o país tenha “disciplina fiscal” e concilie pautas econômicas e sociais. Vejam só o que ele disse: “Hoje, a gente precisa se concentrar em ter uma disciplina fiscal, e entender que precisamos ter um olho mais especial no social. Quanto mais transparente e eficiente o público for, mais aptos estaremos para captar recursos privados”, declarou.

Ora, o que ele diz é bem sensato. Em outras palavras – e sem ofender ninguém – ele assinala que a disciplina fiscal (ou seja, não gastar mais do que arrecada) vai proporcionar um olhar especial para o social.

E como chegar lá? Uma das respostas foi dada também hoje pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad que, em evento na capital paulista, conforme o jornal o Estado de S. Paulo, disse que o governo deverá anunciar em março o novo arcabouço fiscal que substituirá o teto de gastos. Antes, ele havia prometido apresentar a proposta até abril, para que fosse discutida junto com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Haddad disse também que a ideia de antecipar a nova regra foi dada pela ministra do Planejamento, Simone Tebet, e pelo vice-presidente e ministro do Comércio, Indústria, Serviços e Desenvolvimento, Geraldo Alckmin. Eles defenderam que seria positivo discutir a regra antes de apresentá-la ao Congresso.

Como se vê, há gente que parece ser sensata no governo e que conhece as atitudes que, ao invés de complicar a situação (como os discursos de Lula) indicam um caminho para a harmonia. Depois de uma discussão na sociedade, as novas regras para um arcabouço fiscal podem chegar ao Congresso já maduras, adiantando a aprovação no Legislativo.

Em democracias, nada pode ser resolvido no grito. Lula é um presidente mais que experiente e caminha para ser, entre os eleitos democraticamente, o que mais governou o Brasil. Já deveria ter aprendido lições básicas da convivência democrática.

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Edmilson Siqueira é jornalista. Atualmente, na Rádio e TV Bandeirantes de Campinas. Colaborador diário do Blog da Rose

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*Artigo publicado originalmente no Blog da Rosehttps://blogdarose.band.uol.com.br/

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