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Conversas de 1/2 minuto.”Advogados”(28). Por José Paulo Cavalcanti Filho

Mais conversas, em livro que estou escrevendo (título da coluna). Como hoje, 11 de agosto, é o Dia dos Advogados, só com eles (nós)…

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ANTÓNIO VALDEMAR, escritor. Lembrou casos reais ocorridos nos tribunais de Lisboa:

– Advogado: Essa doença, a miastenia grave, afeta sua memória?

– Testemunha: Sim

– Advogado: E de que modo ela afeta a sua memória?

– Testemunha: Eu esqueço-me das coisas.

– Advogado: Esquece-se… Pode nos dar um exemplo de algo que tenha esquecido?

* * *

– Advogado: Doutor, o senhor lembra-se da hora em que começou a examinar o corpo da vítima?

– Testemunha: Sim, a autópsia começou às 20:30h.

– Advogado: E o sr. Décio já estava morto a essa hora?

–Testemunha: Não… Ele estava sentado, na maca, questionando-se por que razão eu estava a fazer-lhe aquela autópsia.

FERNANDO LYRA, ministro da Justiça. Na Câmara dos Deputados, começou discurso dizendo

– Falo como advogado.

Seu colega José Mendonça, de Belo Jardim, aparteou

– Diga isso com menos pompa, Fernando. Que, nas provas, você filava de mim que sou um analfabeto.

* * *

Por falar no deputado José Mendonça, ficou famosa uma briga deles, nos jornais. Fernando

– Você é uma lagartixa verde.

– E você escreve pipoca com 3 Ps e jumento com H.

ISAAC PEREIRA DA SILVA, advogado. Convidou para sua defesa de tese de mestrado, na Faculdade de Direito do Recife. Ao entrar na sala um dos examinadores, o professor Gláucio Veiga, se dirigiu a ele

– Brilhante, Isaac. Brilhante.

Isaac nos confessou estar aliviado, por ser Gláucio o mais imprevisível membro da banca. Na inquisição, o mesmo Gláucio

– Dr. Isaac. Quando comecei a ler sua tese pensei que estava louco. Ao acabar, tive certeza, o louco é o senhor.

Isaac, furioso, quase teve um enfarte.

 JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS, jornalista e advogado. No antigo Tribunal da Boa Hora (depois, da Relação), hoje um velho convento situado na Rua Nova do Almada (Lisboa), o juiz dormia seu sono tranquilo. O dos justos. Cumprindo regra de Fernando Pessoa (Boa é a vida), “bom é o vinho, mas melhor é o sono”. E o julgamento que presidia seguia sem problemas. Ocorre que Cunha Leal, advogado das antigas, deu tantos berros na defesa do seu cliente que o pobre juiz acordou “meio estremunhado” (mal acordado, palavras de José Carlos). E, quase sem querer, disse

– Oh, senhor doutor, não é bem assim…

– É assim mesmo, Excelência. O nosso problema é que aqui os juízes sabem mais, a dormir, que todos os advogados de Portugal acordados.

 NILO BATISTA, catedrático de Direito Penal. À época, presidente da OAB-Rio. Dando-se que Silvio Viola, e outros amigos, prepararam essa peça. Uma denúncia, ao Conselho Seccional da Ordem, por propaganda ilegal da profissão. Apresentando, como prova, esse jingle gravado por Lucinha Lins.

– Habeas-corpus na hora

Revisão Criminal

Quem está dentro sai fora

Ele é sensacional

Dotô Nilo Batista

É melhor que ninguém

Nem Heleno Fragoso

Tem o jeito que ele tem.

Mesmo em fins de semana

Sempre à disposição

Ele é bamba no crime

E na contravenção

Dotô Nilo Batista

Não existe outro igual

Data vênia é um artista

No Direito Penal.

 Nilo quase morreu. De raiva. E só (muito) depois achou graça.

 SILVIO NEVES BAPTISTA. Advogado e Professor de Direito Civil na Faculdade de Direito do Recife. Em seu escritório, mulher para tratar de seu divórcio. Contou que, no desespero de ser agredida pelo marido, preferiu o suicídio e se jogou do seu apartamento. Situado no décimo andar. Ocorre que a queda foi amortecida por andaimes de obras em curso no edifício. E teve a sorte de cair sobre um monte de lixo. Resultado, apenas uma perna quebrada e arranhões no braço. Foi quando alguém entrou na sala e cumprimentou Sílvio por ter sido eleito para a Academia Pernambucana de Letras. Acadêmicos, todos sabem, são chamados de imortais. O poeta Olavo Bilac, fundador da Academia Brasileira de Letras, até definiu com graça

‒ Imortal é quem não tem onde cair morto.

Certo é que, ouvindo aquela informação, a cliente perguntou

‒ O senhor é imortal?

E Sílvio, considerando ser incomum alguém sobreviver a uma queda do décimo andar, respondeu

‒ Imortal é a senhora.

* * *

No restaurante do Hotel Tropical (Manaus), o garçom anotava pedidos para o jantar. Depois foi conferindo, com cada um dos presentes,

‒ O senhor é filé?

Por aí. Quando chegou em Silvio, apontou para ele com a caneta na mão e perguntou

‒ O senhor é frango?

Não resisti

‒ E como foi que o senhor descobriu?

Todos riram. Mas ele passou dois dias sem falar comigo.

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José Paulo Cavalcanti FilhoÉ advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

jp@jpc.com.br

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