Zambelli

Alfândega italiana

Zambelli e os Bolsonaros: sempre juntos. Por José Horta Manzano

É curioso como, apesar das rusgas, Zambelli e os Bolsonarinhos insistem em subir juntos aos palcos – no presente caso, no Parlamento Italiano…

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Alfândega italiana

 Parlamentares da oposição italiana estão furiosos. Acusam o governo de Giorgia Meloni — ela mesma de extrema direita — de hipocrisia ao permitir a entrada de Carla Zambelli no país. A ex-deputada brasileira, foragida da Justiça, chegou recentemente à Itália via Estados Unidos. A revolta do grupo de oposição ecoou no Parlamento.

O deputado Angelo Bonelli, do Partido Verde Esquerda, numa interpelação ao Ministério do Interior, exigiu explicações sobre pontos obscuros referentes à chegada de Zambelli ao aeroporto de Roma. Segundo ele, sua vinda à Itália era amplamente conhecida — inclusive anunciada por ela mesma dias antes. Ela parecia acreditar que, como cidadã italiana, estivesse protegida de extradição, o que tornaria o país um porto seguro. Bonelli questiona: como é possível que a Justiça italiana não tenha se antecipado? Ainda que a ordem de prisão da Interpol não tivesse sido recebida, o mínimo seria monitorar discretamente seus passos.

 “O que não pode acontecer é a Itália virar refúgio de criminosos”, disse Bonelli. “Com ou sem cidadania italiana, um fugitivo é um fugitivo.” Ele também levantou a suspeita de que Zambelli esteja sendo protegida por ordem do alto escalão do governo italiano — que, segundo ele, sabe muito bem onde ela está, mas guarda o segredo.

No mesmo discurso, Bonelli trouxe outro nome à tona: Jair Bolsonaro. Perguntou se o ex-presidente brasileiro também é cidadão italiano. A resposta do Ministério foi evasiva: até o momento, Bolsonaro não solicitou o reconhecimento de sua cidadania. Seus filhos, no entanto, sim — e já foram oficialmente reconhecidos como cidadãos italianos. Flávio, Eduardo e Carlos estão devidamente documentados.

É curioso como, apesar das rusgas, Zambelli e os Bolsonarinhos insistem em subir juntos aos palcos – no presente caso, no Parlamento Italiano…

Mas a informação mais intrigante veio da subsecretária do ministério, que afirmou com naturalidade que os filhos de Bolsonaro têm cidadania italiana, mas não o pai. Como assim? De onde, então, herdaram essa nacionalidade? Se não veio do pai, de onde terá vindo? Acharam na rua?

Pela lei do sangue (ius sanguinis), a cidadania italiana é transmitida por ascendência. Para que os filhos a obtenham, é necessário comprovar a linhagem desde o último antepassado nascido na Itália até o requerente. Isso passa obrigatoriamente pelo pai. Portanto, ele está necessariamente inscrito nos devidos registros italianos. Assim sendo, Jair pode solicitar o passaporte a qualquer hora.

Quem sabe, como italiano de papel passado, Bolsonaro não acaba se juntando a Zambelli para trilharem juntos as espinhosas veredas da fuga e do exílio…

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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