
Três domingos por semana. Por Paulo Renato Coelho Netto
… Três domingos por semana, com direito a três pausas semanais de mísseis, bombas, drones, tanques, granadas e rajadas de metralhadoras para pensar por que ainda fazemos atrocidades como guerras se podemos sentar e resolver nossas diferenças conversando?…
Três domingos por semana para refletir. Do jeito que vai, daqui a pouco não teremos mais um mundo para chamar de nosso.
Como sempre, a semana começaria aos domingos e teríamos: segunda-feira, terça-feira, domingo, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo.
Três domingos para pensar para onde estamos indo.
Contávamos o tempo em milênios, séculos, décadas e anos. Agora, dormimos e no dia seguinte o mundo mudou.
Três domingos por semana para parar o jogo e colocar a bola nos pés.
Dar tempo ao tempo.
Doze dias do mês para quem afirma que ama trabalhar refletir sobre o que é o amor.
Da mesma forma, os mesmos dias de reflexão para aqueles que não suportam o próprio trabalho repensarem a vida. “O que estou fazendo comigo mesmo com essa gente que não gosto, fazendo coisas que não quero para pagar boletos de coisas que não preciso?”
Três domingos por semana para almoçar com calma à mesa, conversando com tempo de sobra, compartilhando afeto e sabores, refeições feitas em casa, sem pressa.
Três domingos para fazer ginástica, andar de bicicleta, montar em burro brabo, subir no pau-de-sebo e tomar banhos de mar!, como Manoel Bandeira em Pasárgada.
Três domingos por semana, com direito a três pausas semanais de mísseis, bombas, drones, tanques, granadas e rajadas de metralhadoras para pensar por que ainda fazemos atrocidades como guerras se podemos sentar e resolver nossas diferenças conversando?
Três domingos por semana para pensar por que ainda há milhões de desnutridos que passam fome, ou morrem sem um pão para comer, desde que transformamos alimento em ouro.
Três domingos por semana para refletir qual o motivo para fazer tanta gente de escravo para acumular dinheiro às custas da mais valia.
Três domingos por semana para que religiosos se dediquem ao seu Deus e deixem em paz os ateus que têm o direito de não cultuar nenhum deus.
Três domingos por semana para entender que ao elegermos os piores que se apresentam seremos representados sempre das piores maneiras.
Três domingos por semana para entender que existem pessoas boas no mundo, trabalhando em silêncio, enquanto os estúpidos andam por aí com seus megafones a tiracolo.
Três domingos por semana e nada mais.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.