
O queridinho. Por Paulo Renato Coelho Netto
Queridinho… Poucas invenções do ser humano foram tão revolucionárias como o celular. Levamos no bolso, na forma de telefone, aplicativos aos milhares, jogos, filmes, bibliotecas, museus, agências bancárias, câmeras fotográficas, filmadoras…
Qual invenção caiu no gosto popular de forma tão avassaladora como o telefone celular?
A roda foi criada aproximadamente 3500 antes de Cristo, portanto há 5500 anos.
Desde então a vida ficou menos complicada. Fizemos carroças para transportar alimentos e pessoas, bicicletas, carros, caminhões, tratores, trens.
Ainda assim, o ser humano não dá o mesmo valor para as rodas quanto para o celular, mesmo quando fala ao telefone no carro.
Diferente dos celulares, ninguém espera para saber quais as novidades que a indústria de pneus vai lançar no próximo semestre.
Antes de ser destruído pelos russos na guerra da Ucrânia, o Antonov An-225, maior avião de carga do mundo, tinha 32 rodas no trem de pouso.
Por maiores que sejam as asas, aviões sem rodas não saem do chão.
O celular tornou-se o último cilindro de oxigênio da UTI, o espelho do Narciso, o cantil no deserto da alma vazia e a muleta do ego super inflado.
“Quem é mesmo dono de quem?”, perguntaria Victor Hugo atualmente referindo-se ao celular, não ao dinheiro.
O telefone é tão poderoso que carrega um Sistema de Posicionamento Global (GPS) e quase ninguém se surpreende mais com isso.
A bússola mudou o curso da navegação. Antes dela, as estrelas e os sonhos de conquistas nos guiavam.
No celular, o GPS aponta por satélite o local onde você estiver, com margem de erro que pode chegar a apenas a cinco metros.
Na agricultura de alta precisão e nos veículos autônomos, a margem de erro é de trinta centímetros, por enquanto.
Desde que colocaram GPS no celular, nenhum ser humano pode se dar ao luxo de dizer que está perdido na vida.
Meca do consumo, até os shoppings são vítimas dos celulares que se transformaram no shopping do presente. Com eles, tudo se compra, incluindo carros e imóveis.
Os meios de comunicação perderam significativamente a receita, com a migração das propagandas para os celulares.
Campanhas políticas, cuja cereja do bolo sempre foi a televisão, igualmente.
Fogo, eletricidade, antibióticos, vacinas, tomografia, penicilina, quimioterapia, radioterapia, lâmpada, eletricidade, microscópio, telescópio, anestesia, laser e transplante de órgãos, nada se compara ao apego ao celular até precisarmos de fogo, eletricidade, antibióticos, vacinas, tomografia, penicilina, quimioterapia, radioterapia, lâmpada, eletricidade, microscópio, telescópio, anestesia, laser e transplante de órgãos.
Poucas invenções do ser humano foram tão revolucionárias como o celular.
Levamos no bolso, na forma de telefone, aplicativos aos milhares, jogos, filmes, bibliotecas, museus, agências bancárias, câmeras fotográficas, filmadoras.
Ao melhor estilo Graham Bell, talvez o telefone devesse continuar apenas um aparelho para ligar, ser atendido e atender chamadas. Nada mais.
Fomos além e deu no que deu. Conversamos muito pouco ou quase nada. Agora teclamos.
A voz do outro ficou em algum lugar ao longo da estrada.
Há de chegar o tempo que vamos precisar da inteligência artificial para lembrar como nos falávamos.
Quanto maior a tecnologia, maior a solidão.
Dentro do celular existe tudo, menos o ser humano.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.
Hoje, ligar para alguém afim de se saber como a pessoa está virou ato de amor. Raro é aquele que quer conversar e entende que isso é ganhar e não perder tempo. É o Admirável Mundo Novo em pleno vigor. Muito bem contextualizado. Parabéns!!!