O país do futuro que se foi. Coluna Carlos Brickmann

Edição dos jornais de Quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Um notável escritor, Stefan Zweig, publicou em 1941 o livro “Brasil, País do Futuro”. Zweig, austríaco (seu país tinha sido anexado pela Alemanha nazista) e judeu (que precisou fugir do nazismo), se maravilhou com um país mestiço, pacífico, lindo, cheio de recursos naturais, com Carnaval e um povo feliz a cantar.

A presidente Dilma Rousseff também aposta, a partir de amanhã, num país do futuro. Reúne o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e apresenta as novas diretrizes econômicas de seu Governo – elaboradas, aliás, por Nelson Barbosa, o ministro que elaborou as velhas diretrizes que não deram certo. É uma reunião chique, com boa parte do PIB nacional, no Palácio do Planalto. E a primeira das quatro que, segundo Dilma, se realizarão neste ano. O Conselho funciona, no caso, como representante de todos os setores econômicos: industriais, banqueiros, sindicalistas, produtores agrícolas, políticos. Nem todos, claro: bom número de políticos e empresários integrantes do Conselhão em seu último encontro, em 2014, está impedido de comparecer, por compromissos inadiáveis em Curitiba ou em casa, com dificuldades para retirar a tornozeleira. Presidentes e executivos de empreiteiras, empresários agrícolas como José Carlos Bumlai e tantos outros ficam privados de dar sua colaboração à presidente.

Enfim, essa história de país do futuro já é passado. Não deu certo nem com o ótimo livro de Stefan Zweig. Em fevereiro de 1942, convencido de que o mundo era como era e o Brasil também era como
era, ele se matou ao lado da esposa.

O passado que passou

Em maio de 2000, o governador paulista Mário Covas, PSDB, foi à Secretaria da Educação, cercada por professores em greve (a presidente do sindicato era, desde então, a mesma de hoje). Foi agredido a pauladas e pedradas, ferido na testa e no lábio inferior, mas se manteve firme: “Ninguém vai impedir o governador de entrar numa secretaria de Estado pela porta da frente”, disse. Saiu também pela porta da frente, sendo apedrejado.

Seu herdeiro político, Geraldo Alckmin, foi à missa pelo aniversário de São Paulo, na Catedral da Sé. Como viu que umas vinte pessoas do Movimento Passe Livre estavam por lá, saiu escondido pelos fundos. O prefeito Fernando Haddad, PT, dava entrevista quando foi atingido por uma garrafa vazia de plástico. Assustado, saiu na hora, protegido pela segurança.

Exemplo de ontem

Em 24 de dezembro de 1961, 700 presos se rebelaram na Penitenciária Lemos de Brito, Rio, e tomaram dois dos quatro pavilhões. Quando o governador Carlos Lacerda chegou, havia dois presos mortos por facções rivais; e a Secretaria de Segurança já tinha dado ordem para que a Polícia invadisse o local. Lacerda entrou sozinho no presídio, sem seguranças. Disse que quem tivesse queixas razoáveis seria ouvido; quem quisesse violência enfrentaria o rigor da lei. Uma frase: “Não temos medo de quem acha que é valente, porque não somos mais nem menos valentes do que vocês. Vamos conversar e chegar a um entendimento”. A rebelião acabou logo depois.

Pois é: autoridade não fugia nem se escondia.

Os donos do Friboi

O Ministério Público Federal de São Paulo acaba de denunciar sócios e executivos do grupo JBS (controlador do Friboi) e do Banco Rural, por crime contra o sistema financeiro. Nove pessoas fazem parte da lista, entre elas Joesley Batista, sócio do JBS, e a banqueira Kátia Rabelo, do grupo Rural (que cumpre pena, condenada no processo do Mensalão). De acordo com a denúncia, houve operações ilegais de empréstimo conhecidas no mercado como “troca de chumbo”, envolvendo R$ 80 milhões.

A denúncia foi aceita pela Justiça Federal.

O Brasil de hoje

Crise econômica? Falta de dinheiro para internações nos hospitais públicos? Besteira: o BNDES aprovou verba de R$ 10 milhões, que não precisam ser devolvidos, para criar o Memorial da Anistia Política do Brasil, em Belo Horizonte. O Museu funcionará no antigo prédio do Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais.

O Brasil de amanhã

Os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung, PMDB, e Minas Gerais, Fernando Pimentel, PT, acertaram com a presidente Dilma a criação do Fundo de Recuperação do Rio Doce, com recursos das multas à Samarco (cuja represa cedeu, destruindo a região) e outras envolvidas nos danos ambientais.

Só há um problema: até hoje, enormes multas são cobradas de empresas que cometem irregularidades, mas pagá-las é outro assunto. Fica para depois, um dia desses.

Quem sabe não sabe

De Fred Monteiro, do “Jornal da Besta Fubana” (http://www.luizberto.com/) a respeito da viva alma mais honrada que já surgiu em toda a história do mundo:

“Não tem santo, nem beato de igreja/ não tem virgem tão pura, nem tão casta; Uma vestal na minha frente é uma nefasta/ Prostituta, fim de rua, que sobeja, a imundícia de quem sua boca beija/ Pois eu sou o homem mais puro que nasceu; Neste vasto país sou o apogeu/ da pureza, do bem, da honestidade/ E duvido que em toda a Humanidade/ HAJA ALMA MAIS HONESTA DO QUE EU”.

carlos@brickmann.com.br
Twitter: @CarlosBrickmann
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