A casa caiu. Coluna Carlos Brickmann

A CASA CAIU

Edição dos jornais de Quarta-feira, 2 de março de 2016

Na campanha de Dilma, eram conhecidos como os Três Porquinhos, que cuidavam de tudo. Um porquinho, o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, saiu por doença. Só restaram dois. O segundo porquinho, o chefe da Casa Civil Antônio Palocci, alvejado por acusações diversas, houve por bem sair do Governo. Só restou um. Num Governo tão esquisito que juntava os leitões ao ministro Lobão, José Eduardo Cardozo, o porquinho 3, dizendo-se cansado dos ataques de adversários e aliados, trocou o Ministério da Justiça pela Advocacia Geral da União, no lugar de Luiz Inácio Adams. Para Dilma, não restam mais porquinhos. Nem a casa bem construída por uma boa empreiteira resistiu: o sopro levou.

Não restam mais porquinhos, e os aliados que lhe sobraram são poucos e não muito poderosos. Lula queria Nelson Jobim na Justiça, talvez achando que, com seu estilo trator, seria capaz de enquadrar a Polícia Federal; e Dilma nomeou o procurador Wellington César, da Bahia), indicado pelo chefe da Casa Civil, Jaques Wagner. Lula queria Henrique Meirelles na Fazenda, Dilma optou por Joaquim Levy, primeiro, e Nelson Barbosa, depois. Distanciou-se de seu padrinho político. E, se nem Lula aguenta Dilma, quem há de?

Cardozo há muito ameaçava deixar o cargo e Dilma sempre o convenceu a ficar. Desta vez, ele vazou a notícia a jornalistas muito amigos, deixando-a sem condições de insistir. Dilma o levou então para a AGU, para mantê-lo por perto.

Tem gente que não percebe quando a sorte a abençoa.

A esperança

O novo ministro da Justiça, Wellington César, poderá trocar o diretor-geral da Polícia Federal. O atual, Leandro Daiello, foi nomeado por Cardozo. Boa parte do PT acha que Cardozo não apenas falhou na escolha – Daiello iniciou, por exemplo, as operações Lava Jato e Zelotes, essa que investiga um filho de Lula – como demonstrou falta de comando, revelando-se incapaz de conter os policiais federais.

A esperança é de que um novo diretor-geral seja mais compreensivo. Pode ser – mas terá condições de comandar a equipe se ceder a pressões?

A realidade

Legalmente, o ministro da Justiça tem a Polícia Federal sob seu comando, mas apenas administrativo: não pode interferir em seu funcionamento. Seja quem for o ministro, portanto, o trabalho da Polícia Federal segue seu curso. Entretanto, Lula foi presidente da República e sabe mais do que nós. Se achava importante substituir o ministro da Justiça, não é por não gostar pessoalmente dele (Lula também não gostava de Collor, com quem se aliou).

É por ter algum bom motivo.

Acarajé para viagem

A história dos acarajés – encomendados à Bahia por uma empresa do grupo Odebrecht com sede no Rio, prometidos quentinhos, e que na opinião da Policia Federal são uma forma de designar propinas – é muito esquisita. Acarajé é um bolinho frito no dendê, com recheio de camarão seco, vatapá e pimenta malagueta. Uma fritura feita na Bahia não chega quentinha ao Rio de jeito nenhum. Por melhor que seja o acarajé, chegará mole, engordurado. Se os acarajés citados nas interceptações telefônicas forem os que a gente conhece, as mensagens não fazem sentido.

Devem ser acarajés diferentes.

Os números

A última pesquisa Datafolha é ruim para todos os partidos e candidatos; e péssima para o Governo Dilma. Lula perdeu prestígio dentro de sua base (dos 33% que sempre votaram nele, um terço agora o rejeita); 49% dos eleitores dizem que não votarão nele de jeito nenhum; e hoje perderia as eleições presidenciais tanto para Marina quanto para Aécio.

Aécio, apesar de todo o bombardeio que atinge Lula, perdeu três pontos de dezembro para cá. Alckmin e Serra perdem de longe. Marina segue estável, mas a intenção do voto nulo chegou a 19%, encostando nela.

Já o Governo Dilma é considerado ruim ou péssimo por 64% dos eleitores pesquisados. E só 11% o consideram ótimo ou bom. Claro, faltam quase três anos para as eleições, o quadro político não é estático, e Lula ainda é considerado, por 37%, o melhor presidente que o país já teve. Mas a situação atual indica forte chance de derrota do PT, embora não se saiba para quem.

Tome nota

As investigações sobre o ex-presidente, dois de seus filhos e seu marqueteiro fizeram com que Lula se pintasse para a guerra. Criticou duramente procuradores e juízes na festa do PT. E proclamou: acabou a era do Lulinha paz e amor.

Cunha na mira

É hoje: o Supremo aprecia a denúncia da Procuradoria Geral da República, por lavagem de dinheiro, contra Eduardo Cunha. Se a denúncia for aceita, Cunha passa a ser réu, embora não perca o cargo de presidente da Câmara. Caso haja a aceitação da denúncia, o Supremo deverá decidir hoje (ou, mais provavelmente, na semana que vem), se ele deve ser afastado da Presidência, continuando embora como deputado. Um deputado é julgado pelo Supremo, não por Sérgio Moro.

Bom de briga

Não se deve afastar a hipótese de que Cunha, muito hábil e combativo, consiga de alguma forma adiar a decisão. Não por muito tempo, mas depois se vê.

Chumbo Gordo www.chumbogordo.com.br
carlos@brickmann.com.br
Twitter: @CarlosBrickmann
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