Mão com mão, pé com pé. Por Josué Machado

MÃO COM MÃO, PÉ COM PÉ

 

Por Josué Machado

Comparar determinado modelo carro com a marca de outro é como comparar a banana com o pessegueiro.

Os anúncios da montadora Hyundai em revistas e jornais brasileiros andaram registrando o seguinte comentário ao lado do carro coreano:

 “A BMW NÃO CONSEGUIU. COMO O i30 CONSEGUIU?

Presidente de uma grande montadora alemã falando com seu chefe de design sobre a qualidade do novo i30 no Salão do Automóvel de Frankfurt”.

O comentário da frase publicitária corresponde à dúvida expressa aparentemente com irritada admiração pelo presidente da BMW. Se verdadeira a expressão e exato o registro oral aproveitado pelos publicitários, vale como curiosidade a comparação feita entre grandezas diferentes.

O tal presidente teria comparado a marca BMW, simbólica do trabalho de uma equipe, com um modelo de automóvel, o i30, produto resultante do trabalho da equipe de fábrica concorrente.

Uma comparação imprópria, portanto, porque não tem sentido comparar produtor com produto. Para que qualquer comparação seja bem feita, é preciso que se comparem grandezas iguais, como diria o Conselheiro Acácio. A menos que o tradutor do comentário em alemão tenha sido impreciso, o que não seria surpresa.

Claro que isso não tem importância no contexto porque se trata, se verdadeira, de manifestação oral espontânea e expressiva de admiração, como quiseram fazer crer os bem pagos publicitários glorificadores do Hyundai; afinal, todos entendem a mensagem mesmo que logicamente imperfeita.

Os publicitários poderiam alegar que se valeram da figura de retórica chamada metonímia na referência ao produtor pelo produto e vice-versa. De todo modo, o suposto industrial não fez a suposta comparação apropriada, ou foi mal traduzido (Já que é modo usar “suposto” para tudo, como andam usando…). Se fez ou tivesse feito a comparação formalmente adequada, teria sido bem traduzido assim:

 “A BMW NÃO CONSEGUIU. COMO A HYUNDAI CONSEGUIU COM O i30?

Ou, com mais ênfase:

“A BMW NÃO CONSEGUIU. COMO É QUE A HYUNDAI CONSEGUIU COM O i30?

Conclusão?

Não tem sentido comparar banana com pessegueiro.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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