João Sicsú bate seu próprio recorde de desonestidade intelectual!

Que João Sicsú é intelectualmente
desonesto não mais se discute. Ainda assim, porém, há momentos em que ele
consegue nos surpreender. Leiam, se tiverem estômago, mas posso sintetizar a
mensagem para vocês.

3 fases de política econômica. Quando o país cresceu, foi porque seguiu nossa
política. Quando não cresceu, foi porque seguiu a política neoliberal
.
Sério.
Vejam só: “A primeira fase obteve resultados pífios ou
medíocres. Tudo muito semelhante ao segundo mandato de Fernando Henrique
Cardoso
.” Só não contou que a na tal “primeira fase” o crescimento do PIB
atingiu 3,5% ao ano, mesmo com o 2003 complicado pelo medo do que gente como
Sicsú poderia fazer.
Entre 2004 e 2006 o país
cresceu 4,2% ao ano. A inflação, 9,3% em 2003, caiu para 3,1% em 2006. A conta
corrente foi positiva em todos aqueles anos. Como se vê, um resultado pífio.
Mas o pico da desonestidade
(o que não é qualquer coisa quando se trata de Sicsú) é o seguinte:
O ano de 2011 é um marco. Tem início a terceira fase. O debate morre,
na mídia e no governo. Grandes quadros progressistas ou de esquerda, aos
poucos, saem de cena. Os movimentos sociais estão adormecidos. As políticas de
Palocci e Meirelles voltam com força total: juros subiram, superávit primário
foi elevado, houve contenção do crédito e o câmbio flutuou livremente para
baixo. Os resultados se tornam pífios a partir de então.
Fantástico! No mundo
mágico de Sicsú a tal “nova matriz macroeconômica” nunca existiu, o BC não
reduziu a Selic para 7,25%, o superávit primário não desapareceu e o estoque de
crédito do BNDES não cresceu 15% ao ano. A política econômica dos últimos 4 anos
não tem nada a ver com as recomendações campineiras. Além de desonesto, não
assume responsabilidades.
Apesar de ser um
desserviço à higiene, o artigo original e o link seguem abaixo. Aí poderão ver
se exagerei…

Adendo (13/Jan/2015)


Um amigo, com mais estômago que eu, desencavou a seguinte pérola:

A economia começou a reagir, de fato, no início de 2013, quando começaram a ser dissolvidos os efeitos provocados pela política contracionista de 2011. No primeiro trimestre do ano, o investimento cresceu mais que a economia – deu sinais que a forma do crescimento poderia se assemelhar à Era Lula. O resultado do 2º tri já foi bem melhor que o do primeiro. O PIB cresceu 1,5% em relação ao trimestre anterior e 3,3% em relação ao mesmo período do ano passado. E o investimento? Cresceu quase três vezes o crescimento da economia – tal proporção foi exatamente o que caracterizou a fase de crescimento de 2005 a 2010.
Outro quesito importante da qualidade do PIB é o crescimento da indústria. No 2º trimestre, houve crescimento de 1,7% da indústria de transformação em relação ao trimestre anterior. A construção civil foi o destaque, cresceu 3,8% em relação ao trimestre passado. Sempre que a indústria cresce a trajetória do PIB se mostra mais consistente.
Sonho para uns e pesadelo para outros: a economia está com inflação moderada e a trajetória de crescimento se mostra consistente, embora ainda modesta

O autor? Sicsú, claro, em 30/Ago/2013. Ah, sim, e como lembrado também por este amigo, o artigo abaixo contradiz o Manifesto pró-reeleição de Dilma, assinado por quem? Preciso responder?

Não passaram apenas 12
semanas. Não passaram apenas 12 meses. São 12 anos de governos do PT e de seus
aliados. No imaginário do povo brasileiro, que tem pressa, uma dúzia de anos é
muito tempo. Não é o início de um projeto, mas sua consolidação. Esses 12 anos
não foram um período homogêneo em termos de resultados, de ideias e de
políticas adotadas. Houve ziguezague.
Um balanço minucioso do
período 2003-2014 ainda precisa ser elaborado. Mas, grosso modo, houve três
fases. Na primeira, as ideias fervilhavam. Era um governo que acertava e
errava. Aliás, errava mais do que acertava, mas havia muito debate. Era um
governo vivo de ideias. Havia debate nas universidades, na mídia, nos
movimentos sociais, na internet e no interior do próprio governo.
A equipe econômica,
constituída em 2003, por Antônio Palocci e Henrique Meirelles, provocou um
desconforto histórico. O PT, um partido que foi construído nas lutas por
melhores salários e mais empregos, nos genuínos movimentos sociais e com forte
influência de uma esquerda que pregava justiça social, nomeou uma equipe
econômica que defendia ideias opostas à sua história.
Em nome da governabilidade
e de muitos outros argumentos chamados de técnicos tais como “não se pode dar
cavalo de pau em transatlântico”, fez-se uma opção definitiva de continuidade
do modelo econômico do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso
(1999-2002).
Estranhada por muitos,
essa tinha sido uma opção definitiva, sem volta. Foi uma opção estranha para
economistas desenvolvimentistas e de esquerda, mas foi uma opção confortável e
comemorada pelos petistas pragmáticos. Havia um argumento simplório que confortava
a militância petista: “deixa a política econômica com eles e a política social
com a gente”. Erro crasso: políticas sociais necessitam de financiamento cuja
fonte está no modelo econômico.
A primeira fase obteve
resultados pífios ou medíocres. Tudo muito semelhante ao segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso. Basta comparar os números e perceber que as melhoras
foram imperceptíveis. E assim a história seguiria o seu rumo… sem solavancos
e com uma oposição enfraquecida já que o governo havia roubado alguns de seus
quadros e todas as suas ideias econômicas.
Faltou combinar com a vida
real… resultados irrelevantes, ataques bem sucedidos da grande mídia tendo
como mote a corrupção no interior do governo, queda do ministro Palocci
provocada por denúncias de um caseiro, a crise americana/mundial de 2007-2009 e
a intensificação do debate de ideias, fizeram o PT se reencontrar com a sua
história e seus sonhos dos anos 1980 e 90.
Teve início a segunda
fase. A oposição foi saindo do Ministério da Fazenda e voltando para a
oposição. Saiu de outros órgãos do governo também. Meirelles continuou à frente
do Banco Central, mas a sua diretoria foi mudando: quem era do mercado
financeiro voltou aos seus empregos de origem. O modelo do período FHC foi
modificado sem “cavalo de pau”. Houve algum tipo de controle do movimento de
capitais internacionais especulativos. Os bancos públicos honraram o rótulo que
possuem. A Petrobras fazia descobertas inusitadas. O governo elevou o seu
patamar de investimentos, uma política fiscal anticíclica foi organizada e
houve início de uma restruturação que objetivava justiça tributária.
Importantes programas sociais foram lançados ou aprofundados. Os resultados
obtidos foram extraordinários. José Alencar, o vice-presidente da República, e
o presidente Lula se consolidaram.
O ano de 2011 é um marco.
Tem início a terceira fase. O debate morre, na mídia e no governo. Grandes
quadros progressistas ou de esquerda, aos poucos, saem de cena. Os movimentos
sociais estão adormecidos. As políticas de Palocci e Meirelles voltam com força
total: juros subiram, superávit primário foi elevado, houve contenção do
crédito e o câmbio flutuou livremente para baixo. Os resultados se tornam
pífios a partir de então. O único bom resultado que é o desemprego deixa de ser
explicado pelo vigor econômico e é mantido graças a fatores demográficos e
políticas sociais específicas.
Após 12 anos,
representantes diretos dos banqueiros assumem a direção do Ministério da
Fazenda e dão o tom da política econômica. Os juros sobem novamente. Metas de
superávit primário são fixadas independentemente dos ciclos. Representantes de
latifundiários e do agronegócio ganham espaço. E, em nome da moralização,
direitos sociais estão ameaçados.
A guinada de 2011, que se
torna mais nítida em 2015, parece ter sido mais uma jogada política pragmática
de consolidação do modelo iniciado em 2003 que foi interrompido em 2006-7. A
opção de 2003 retornou apenas com suas políticas em 2011. Em 2015, retorna com
as políticas e com representantes legítimos da oposição ligados ao sistema
financeiro. A opção feita na Carta aos Brasileiros de 2002-3 parece estar se
consolidando. O pragmatismo político de governabilidade do PT parece ter
vencido os sonhos e a história do PT.

Com muitas dúvidas e certa
desesperança nesse governo encerro essa breve reflexão.

19 thoughts on “João Sicsú bate seu próprio recorde de desonestidade intelectual!

  1. Que ele distorce o que aconteceu para se encaixar no que ele acredita, inegável (e infelizmente,algo muito comum). Mas você realmente acha que houve algo como uma "nova matriz macroeconômica", em algum momento? Pra mim, só se poderia falar disso se a taxa de juros conseguisse reduzir sua diferença em relação às taxas de juros dos países desenvolvidos, o que não me parece ter ocorrido. Baixar a SELIC pra 7,25 quando os países desenvolvidos estão praticando taxas próximas de 0 é uma coisa, outra é conseguir manter essa taxa…

  2. Permita-me o risco de generalizar. Esse texto do Sicsú, infelizmente, é o retrato do ensino em economia na maioria de nossas universidades federais.

  3. Alex, como sempre um ótimo artigo!
    Faltou dizer que o crescimento econômico entre 2003 e 2008 foi devido à China e India, que demandaram o que tínhamos de melhor, commodities… Houve aumento dos preços internacionais destes produtos e a entrada de dólares foi imensa, jogando câmbio e preços para baixo no mercado interno. Após a subprime as coisas mudaram e foi dada carta branca para que o governo Lula fizesse uma política anticíclica. Como o resultado foi positivo, para o momento, a sucessora a levou adiante, como uma panaceia, e trocou os pés pelas mãos com a "nova (?) matriz econômica".
    Abraços!

  4. Concordo.

    Joao Sicsu, Belluzzo, Conceição Tavares, Mercadante, Pochmann etc etc coitados dos alunos dessa turma. Sempre erram mas ainda assim são vistos como intelectuais. É por causa desse tipo de gente que o Brasil continua a ter uma trajetória medíocre, bem longe de seu potencial. E o pior é que todos estão no governo, de uma forma ou de outra.

    A propósito, parabéns pelo Complacência, ótimo livro que recomendo a todos.

  5. Dizem os psicólogos que é um transtorno mental, a pessoa acredita de fato nas mentiras que cria em seu pensamento. Desvirtua fatos, mas acredita neles.
    Mas, de fato, a turma da esquerda utiliza o método de desvirtuar fatos e repetir mentiras.

  6. Mas a oposição aos heterodoxos cresceu bastante,principalmente com o crescimento da escola austríaca.

    As pessoas estão lendo mais Friedman,Hayek,Mises.No seu tempo talvez o movimento não fosse tão forte como e hoje .

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