A roda viva do técnico de futebol. Coluna Mário Marinho

A roda viva do técnico de futebol

COLUNA MÁRIO MARINHO

Levir Culpi acaba de chegar ao Santos para substituir o técnico Dorival Jr., até então o mais longevo técnico em atividade na Série A do Brasileirão.

Dorival era técnico do Peixe desde junho de 2015.

A substituição de técnicos é uma constante no futebol – principalmente no futebol brasileiro.

Dizem até que na hora da assinatura do contrato, o técnico, hoje muito valorizado, se preocupa mais com a multa por rescisão de contrato do que mesmo com o salário que vai receber. Ou seja, ele chega sabendo que seu prazo de validade é curto.

Nós, brasileiros, somos, por excelência imediatista. Se muda o governo na terça-feira, todo mundo espera que a inflação caia na quinta, o desemprego acabe na sexta e por aí vai.

Com os técnicos de futebol não é diferente. Até pelo contrário.

Um time de futebol é movido a paixão. O dirigente, aquele grande e bem sucedido empresário, não tem a mesma paciência mesma visão de futuro que emprega em sua firma. Lá, na sua firma, ele costuma dar mais oportunidades ao empregado que comete uma ou outra falha.

No time não. No time trata-se de sua paixão, da paixão da torcida (mesmo sendo ela tão volúvel, indo do aplauso frenético à vaia estonteante em questão de minutos), da paixão dos seus auxiliares e dirigentes, tão apaixonados quanto ele.

Assim, se não estiver dando certo, o melhor é demitir e contratar outro. Pode até não dar certo, mas lhe dará paz, ainda que não duradoura.

Lembro-me que certa vez, no final dos anos 60, antes de assumir a Seleção Brasileira em 1969, perguntaram a João Saldanha, num programa de TV, se ele toparia assumir o Corinthians que havia acabado de demitir mais um treinador.

Respondeu na bucha:

– Topo sim. Topo, desde que me deem um contrato com duração de pelo menos três e… inquebrável.

Na
Europa

Historicamente, lançamos mão do exemplo europeu, onde um técnico, normalmente, tem longa sobrevida.

O exemplo mais lembrado é o sir Alex Ferguson que dirigiu o Manchester United por 26 anos e conquistou 38 títulos. Com tantos títulos, não é à toa que foi homenageado com imponente estátua em Old Trafford, estádio do Manchester.

Mas o recorde mundial de permanência na Europa não ficou com o festejado Sir Ferguson, mas, sim como francês Guy Roux que dirigiu o pequeno porém tradicional Auxerre, fundado em 1905. Roux assumiu o cargo em 1961 e só saiu em 2005.

Nessa longa vida, conquistou um título de campeão francês.

O elegante francês Arsène Wenger assumiu o inglês Arsenal em 1996 e está no comando até hoje. Seu arsenal de conquistas não é nada desprezível: 3 Premier Leagues, 6 Copas da Inglaterra e 6 Supercopas da Inglaterra. Nada mal, hein?

Em 2004, o romeno Mircea Lucescu assumiu o Shakhtar Donetsk e poucos meses depois conquistou a Copa da Ucrânia. De lá para cá, já venceu 8 campeonatos ucranianos, 5 Copas da Ucrânia, 7 Supercopas da Ucrânia e 1 Copa da Uefa, a maior conquista do Shakhtar Donetsk até hoje. Isso tudo sem contar o fato de ter enfrentado uma guerra, que forçou o time a jogar em Lviv em 2014 e 2015, um pré-infarto e um grave acidente automobilístico em 2012.

O Atlético de Madrid é dirigido desde 2011 pelo argentino Diego Simeone. O Atlético não é exatamente um time vencedor, mas a torcida gosta do trabalho do “Cholo” (algo como mestiço) como ele é conhecido. O time é brigador, raçudo e já conquistou um Campeonato Espanhol, uma Copa do Rei, uma Supercopa da Espanha, uma Copa da Uefa e uma Supercopa da Europa. E, claro, sem a grana que abunda no Real e no Barcelona.

Os dois grandes campeões espanhóis não têm histórico de tanta paciência com seus técnicos. Veja:

Barcelona:

Ernesto Valverde (2017-)
Luis Enrique (2014-2017)
Gerardo ‘Tata’ Martino (2013-2014).
Francesc ‘Tito’ Vilanova (2012-2013) – saiu por motivo de doença
Josep Guardiola (2008-2012)
Frank Rijkaard (2003-2008)

Real Madrid

Vanderlei Luxemburgo (2004-05)]
Juan Ramón Lopes (2005-06)
Fabio Capello (2006-07)
Bernd Schuster (2007-08)
Juan de Ramos (2008-09)
Manue Pellegrini (2009-10)
José Mourinho (2010-13)
Carlo Ancelotti (2013-15)
Rafael Benitez (2015)
Zinedine Zidane (2016)

O maior vencedor da Alemanha, Bayern de Munique, também não costuma deixar técnico esquentar tanto o banco.

Pepe Guardiola, que encantou o mundo com o Barcelona, entrou em 2013 e saiu em 2016 – pouco tempo para o padrão europeu.

O holandês Louis Van Gaal ficou apenas uma temporada: 2009 a 2010.

Nem mesmo o grande Franz Beckenbauer, o kaiser, durou muito: só uma temporada: 1993-94.

Na Holanda, Frank de Boer, um dos maiores zagueiros do Ajax, está firme no cargo de técnico do seu time desde 2010.

No
Brasil

Por aqui, é mínima a lista de treinadores que conseguiram ficar por mais de dois anos num mesmo clube.

A lista de longevidade em um mesmo clube começa com o pouco conhecido Amadeu Teixeira, que dirigiu o América de Manaus de 1955 a 2008. Mais tarde assumiu a presidência do clube que hoje tem como presidente sua neta Bruna Parente.

O Londrina-PR é dirigido por Cláudio Tencati desde 2011.

O Santos, dos bons tempos, teve Lula (Luiz Alonso Perez) como técnico de 1954 a 1966 (foram 961 jogos).

Muricy Ramalho dirigiu o São Paulo por três anos seguidos, de 2006 a 2009 e conquistou três títulos de campeão Brasileiro nesse intervalo.

Mas ninguém ficou tanto tempo em um time e foi tão vitorioso quanto Mestre Telê Santana. Dirigiu o São Paulo de 1990 a 1996. Foram 410 jogos, com 197 vitórias, 122 empates e 91 derrotas. Ganhou o Mundial de Clubes (1992 e 1993); Taça Libertadores da América (1992 e 1993); Campeonato Brasileiro (1991); Campeonato Paulista (1991 e 1992); Supercopa Libertadores (1993); Recopa Sul-Americna (1993 e 1994). Telê foi o mais competente e criativo técnico do futebol brasileiro.

Mas tivemos também técnicos de rápidas passagens.

Leovegildo Lins da Gama Júnior, o Júnior, o maior lateral esquerdo do futebol brasileiro depois de Nilton Santos, quando pendurou as chuteiras fez sua estreia como técnico no Flamengo, onde brilhou como jogador, e dirigiu o time por 54 pogos no período de 1993-94; depois, voltou em 97 e ficou apenas 23 jogos.

Mas recorde de rapidez foi batido no Corinthians, em 2003, quando dirigiu o Timão por apenas e tão somente três jogos.

Outro de rápida passagem pelo Corinthians foi Daryo Pereira: seis jogos.

Daniel Passarella, grande capitão da Seleção da Argentina, chegou ao Corinthians no dia 1º de marco de 2005 e saiu no dia 10 de maio depois de perder para o São Paulo de goleada: 5 a 1.

Outro argentino também passou correndo pelo futebol brasileiro Ricardo Gareca. Ele foi contratado pelo Palmeiras no dia 21 de maio de 2014 e demitido em 1º de setembro. Os números não ajudaram: foram 13 jogos, 4 vitórias, 1 empate e 8 derrotas.

Show do
Timão no Brasileirão

Em uma rodada severamente econômica em gols, o Corinthians se excedeu no estádio de São Januário e esmagou o dono da casa, o Vasco da Gama, 5 a 2, em plena noite em que o presidente vascaíno, Eurico Miranda, comemorava aniversário.

Foi um jogo incrível, mesmo com a fragilidade do Vascão.

O Corinthians marcou seu primeiro gol logo aos 3 minutos, com Marquinhos Gabriel e Jô aos 39. Porém, no segundo tempo, Luís Fabiano aos 1 aos 2 minutos empatou.

Entusiasmado, o Vasco chegou a levar certo sufoco ao gol defendido por Cássio, até o Corinthians controlar novamente a partida e desandar a fazer gols: Maycon, aos 14, e Clayton, aos 39 e aos 47 minutos do segundo tempo.

O milionário Palmeiras não consegue deslanchar e perde mais uma: Coritiba 1 a 0.

O Santos, que tem Levir Culpi como novo técnico, mas ainda foi dirigido pelo ex-jogador Elano, teve vitória magra sobre o Botafogo, no Pacaembu, 1 a 0.

O Sport Recife venceu o Flamengo, 2 a 0. Em Minas, magra vitória do Galo sobre o Avaí: 1 a 0.

Veja imagens dos
gols, confusão e classificação:

https://youtu.be/qIcK2R2zuRI

_____________________________

FOTO SOFIA MARINHO

Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

2 thoughts on “A roda viva do técnico de futebol. Coluna Mário Marinho

  1. Meu caro Mario Marinho, uma pequena correção. Na Inglaterra, o título de Sir obriga que se chame o homenageado pelo primeiro nome. No caso de Alex Ferguson, deveria ser Sir Alex. Se o título for “lord”, aí sim atrai o sobrenome: lord Ferguson. Esse é o “cara”! Um escocês de quatro costados amante, também, das corridas e criação de cavalos.

    Como vivi em Londres por 17 anos, acompanhei grande parte de seu reinado. O que me surpreende é o reinado do técnico do time do meu coração, o Arsenal. Arsène Wenger não tem ganho títulos importantes recentemente. Obviamente nossos coleguinhas (ops, eu sou ex-colega ! rsrs) da imprensa esportiva de lá também especularam muito se ele ficaria ou não. Mas , pelo que sei, o Arsenal renovou o contrato dele.

    “E la nave và ….”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter