Apenas um sonho. Por Josué Machado

APENAS UM SONHO

Por Josué Machado

Sim, estamos no mundo da fantasia, mas, do jeito que a coisa vai, não há outra solução.

Curiosa a divisão atual da sociedade por aki.

De um lado, a moçada que chama a si mesma de liberal, mas é chamada de “direita” pelos adversários, gosta das organizações Globo, de seu jornal e de seus telejornais, lê o Estadão e a Folha, que se esforça para parecer neutra, publicando textos de colaboradores adversários do liberalismo e do neoliberalismo.

Esses são organismos de grande difusão que, por isso, chegam a maior número de pessoas.

Com ideias semelhantes às desse grupo, no entanto mais exacerbados, figuram saites e blogues que pregam quebra-quebras e a solução extrema da volta dos militares ao poder. São as “vivandeiras alvoroçadas” saudosas das fardas verdinhas.

Do outro lado (no bom sentido), o grupo que se apega às informações e interpretações de saites como “Carta Maior”, “GGN”; “Diário do Centro do Mundo”, “Conversa Afiada” e vários outros mais ou menos nervosos, alguns deles também adeptos da pancadaria e do quebra-quebra.

A maioria de uns e outros representantes dessas duas correntes básicas – sem contar os matizes variados em torno delas — considera que jamais se devem ler ou ouvir as informações e argumentos do lado oposto.

É assim que funcionam, por mais que pareça tolice a concentração de pessoas em igrejinhas fechadas que se festejam e confeteiam em constante pregação aos convertidos, surdas às vozes discordantes.

Tudo bem que não se goste dos extremos, mas, se não houver pelo menos a tentativa de ouvir o outro lado, cada um dos lados pouco progredirá por falta de oxigênio, como diria o Conselheiro Acácio.

Seria bom notar que nem sempre vozes discordantes são necessariamente estúpidas. Há casos em que podem até ser racionais. Não é incrível?

Nem vamos lembrar a dialética que escorregou dos gregos, veio vindo, veio vindo, passou por Hegel, derrapou em Kant, foi digerida por Engels e Marx da tese, antítese e síntese e deslizou até Schopenhauer, mudando sempre, filtrada pelas cabeçonas de todos.

Daí não ser difícil perceber que boas conclusões são as que amadurecem levando em conta todos os lados da questão, por mais que alguns deles pareçam absurdos.

Entre os que pensam, não importa o lado, supõe-se que uns e outros jamais poderão aceitar a manutenção de privilégios dos poderosos grupos organizados, em prejuízo dos direitos e benefícios da maioria, como ocorre até agora.

Diante de tudo, temos esperança de que em breve, quem sabe?, elegeremos um maravilhoso presidente honesto e um Congresso honesto. E só haverá ministros honestos, juízes e procuradores honestos. E advogados honestos incapazes de embolsar parte dos milhões dos ladrões para os defender, como diria Temer.

Claro que para isso seria preciso recolher aos Círculos dos Infernos descritos por Dante todos os marginais em ação nas esferas de poder por aki. Todos.

Muitos ao Quarto Círculo (ganância);

a maioria ao Oitavo Círculo (fraude e roubo);

e outros tantos ao Nono Círculo (traição ao povo e às promessas).

Que rebolem no calorzinho aquecido para sempre, como nunca antes na história deste país.

Maravilhosa haveria de ser a magia capaz de nos livrar deles, todos eles, salvo os 3,27% honestos.

Um sonho. Apenas um sonho.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

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