“Haddad apoiado por Lula”. Por Emmanuel Publio Dias

“Haddad apoiado por Lula”

Emmanuel Publio Dias

Comentários sobre a pesquisa XP Investimentos/ Ipespe – Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas

      Muitos bits e caracteres sendo gastos para comentar a última pesquisa XP/Ipespe, cujo resumo foi publicado pela coluna de Carlos Brickmann (www.chumbogordo.com.br), ainda sobre um cenário desconhecido para a maioria do eleitorado: segundo a pesquisa, metade dos entrevistados está “pouco ou nada interessada” pelas eleições de outubro, dando de barato que os 21% que responderam estar “mais ou menos interessados” realmente estão. E não deram apenas uma resposta encabulada a uma entrevista telefônica.

Outros números confirmam o distanciamento ainda enorme das intenções e reais manifestações futuras de voto: na intenção espontânea, 56% não apontam um nome. Lula e Bolsonaro, que estão se expondo como candidatos há meses, têm apenas 15% de intenções de voto espontâneas.

Na estimulada, Lula alcança seus históricos 31% e Bolsonaro, 20%, índice certamente turbinado pelos seus fiéis seguidores e, muito mais, pelos que rejeitam, repudiam, se enojam com o processo político/eleitoral e vêm, na menção a Bolsonaro, uma opção de voto nulo. Estes eleitores tendem a se afastar dele, à medida que o processo se consolida.

… A pesquisa cria ainda um quadro impossível, heterodoxo, uma novidade em metodologia de pesquisa: “Haddad apoiado por Lula”, um ornitorrinco que teria 15% das intenções de voto. Esse candidato NO ECXISTE

No mundo real, onde Lula não será candidato, os “brancos/nulos/indecisos/não sei” vão a 31%, porque as pessoas não realmente sabem quem são a maioria dos candidatos que lhes são nomeados na entrevista pelo telefone.

A pesquisa cria ainda um quadro impossível, heterodoxo, uma novidade em metodologia de pesquisa: “Haddad apoiado por Lula”, um ornitorrinco que teria 15% das intenções de voto. Esse candidato NO ECXISTE.

Mesmo neste cenário impossível, 28% continuam sem saber em quem votar. Instados a uma segunda opção, estimulados, os pesquisados não tem a menor ideia, os que não conseguem apontar um nome voltam a ser a maioria (56%)

O não-voto continua alto (acima de 30%) nas simulações de  segundo turno, quaisquer que sejam as opções reais. Isto é incomum, pois confrontados um a um, o eleitores tenderiam a ser mais assertivos, apenas 45 dias antes das eleições.

… Pesquisas eleitorais só têm valor se forem séries históricas de bases consolidadas, feitas com a mesma metodologia, pelo mesmo instituto. Na medida em que as pesquisas deste ano mal conseguem repetir as mesmas hipóteses a cada medição…

Finalmente, os pesquisados confirmam que não não estão nem aí para os candidatos, rejeitando, em níveis em torno de 60%, os 5 líderes da pesquisa que acabaram de responder.

O que tudo isso quer dizer?

Muito pouco. Exceto que tudo ainda está para ser decidido e, provavelmente, chegaremos muito perto da data da eleição sem saber qual o mais provável resultado.

Pesquisas eleitorais só têm valor se forem séries históricas de bases consolidadas, feitas com a mesma metodologia, pelo mesmo instituto. Na medida em que as pesquisas deste ano mal conseguem repetir as mesmas hipóteses a cada medição (já tivemos Huck, Barbosa, Datena…), em que temos um dos pesquisados que os eleitores não sabem se estará ou não na urna, em que se oferecem aos pesquisados opções de voto em pessoas de quem jamais ouviram falar, não podemos falar em séries históricas de pesquisa.

E tudo isso cultivado num caldo de desinteresse e rejeição, expresso em vários índices e respostas desta e todas as pesquisas até agora.

Este fim de semana, o IBOPE Inteligência deve estar em campo, numa pesquisa a ser divulgada dia 23/8.

O Datafolha, da Folha de S.Paulo, idem, e deve divulgar dia 22/8. Desta vez o instituto irá apresentar apenas dois cenários estimulados (com Lula e com Haddad), evitando o absurdo de apresentar, numa pesquisa aplicada em locais de fluxo (na rua), mais de 10 cenários.

Imaginem, os raros que ainda me acompanham neste post, que você está entrando na estação do metrô, ou na feira, saindo da praia, apreciando um sanfoneiro na feira de Caruaru, e é abordado por um simpático entrevistador do Datafolha, que inicia uma entrevista com mais de 10 cenários possíveis de uma eleição na qual você não está minimamente interessado.

Por isso, a partir da semana que vem, com estas duas pesquisas, feitas por dois institutos sérios, que certamente não apresentarão o ornitorrinco do Ipespe (“Haddad apoiado por Lula”), começaremos a ter uma primeira medida consolidada num cenário quase real, o que só acontecerá quando o registro da candidatura Lula for rejeitada.

Até lá sugiro, aplicar na Bolsa, aproveitando a volatilidade geral, que continuará.

____________________________________

Foto do perfil de Emmanuel Publio Dias, A imagem pode conter: 1 pessoa, óculos– Emmanuel Publio Dias Publicitário formado na ECA-USP, pós-graduado na ESPM e na Universidade do Texas. Nos últimos 30 anos tem trabalhado para as maiores agências de publicidade, anunciantes, governos e entidades públicas nas áreas de planejamento estratégico e desenvolvimento de mercados. Professor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter