Cinco letras que choram. Por Carlos Brickmann. Especial Eleições 2018

Cinco letras que choram

Carlos Brickmann

… Em política, certos sinais indicam que a eleição está perdida, que a carreira do político caminha para o encerramento, que os tempos de pompa e poder são coisa do passado. Alckmin, convencido de que ainda tinha condições de conquistar parte do eleitorado e chegar ao segundo turno, recebeu dois recados fatais nesta semana…

 

O governador paulista Adhemar de Barros morava numa grande casa com jardim. Todas as manhãs, inspecionava a grama da entrada: se era uma grama verde, viçosa, bonita, Adhemar se preocupava: era sinal de que pouca gente tinha ido à sua casa e seria preciso atrair mais eleitores.

Em política, certos sinais indicam que a eleição está perdida, que a carreira do político caminha para o encerramento, que os tempos de pompa e poder são coisa do passado. Alckmin, convencido de que ainda tinha condições de conquistar parte do eleitorado e chegar ao segundo turno, recebeu dois recados fatais nesta semana (e reagiu toscamente a ambos, num caso de maneira agressiva, noutro fingindo que não tinha acontecido nada). Alckmin teve longa carreira política, foi quatro vezes governador de São Paulo – um recorde – mas parece hora de encaminhar-lhe a clássica frase de Lula para Dilma, no telefonema do Bessias: “Tchau, querido!”

O primeiro sinal veio da Frente Parlamentar da Agropecuária, com seus 214 deputados, sendo 43% de partidos aliados a Alckmin. Há tempos, Alckmin participou de excelente encontro com a FPA e garantiu seu apoio. Mas isso aconteceu na época em que ele era competitivo. Com as últimas pesquisas, a deputada federal Tereza Cristina, do DEM de Mato Grosso do Sul, presidente da FPA, ouviu a bancada. Alckmin foi descartado e Bolsonaro tomou seu lugar. Detalhe: abriram-se as portas para que todos os parlamentares da FPA indiquem a seus eleitores que Alckmin está fora.

Alckmin reagiu grosseiramente: disse que se considerava desrespeitado pois, embora seja agricultor, ninguém o ouviu. Verdade: só que ele não é parlamentar, não faz parte da FPA e não haveria por que ouvi-lo. E o produto agrícola pelo qual tem mais apreço é o chuchu – uma homenagem, aliás justíssima, a ele mesmo e a seu grande carisma, maior até que o de Henrique Meirelles.

A outra indicação mortal veio de candidatos do PSDB que se movem ao lado de parlamentares e candidatos bolsonaristas. Em política, isso tem nome: chama-se “cristianização”, referência ao abandono do candidato Cristiano Machado, em 1950, por seus aliados, que preferiram o ex-ditador Getúlio Vargas (Vargas se elegeu, em segundo ficou o candidato da oposição, o Brigadeiro Eduardo Gomes, e para Machado sobrou o terceiro).

Ver os aliados dando apoio ao adversário já é dolorido. Mas quando o aliado é um de seus amigos mais próximos, levado por ele a se eleger, isso não tem preço. Há um vídeo de Franca, SP, em que um membro do PSL pede votos para Bolsonaro ao lado de João Doria, candidato ao Governo paulista pelos tucanos de Alckmin. Alckmin fez que nada viu.

Este colunista já viu Lucas Nogueira Garcez, afilhado político de Adhemar de Barros, romper com o chefe. Já viu Carvalho Pinto, afilhado político de Jânio, abandoná-lo. Já viu Fleury romper com Quércia. Mas, com perdão do termo, passar a mão na bunda do chefe sem ter rompido com ele é exclusividade de Doria.

Geraldo Alckmin, para grande número de eleitores foi bom enquanto durou. Agora, Tchau, Querido!

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Carlos Brickmann –  Jornalista e diretor do site Chumbo Gordo; um dos fundadores do Jornal da Tarde, ex-repórter especial e editor da Folha de S. Paulo e ex-editor-chefe da Folha da Tarde. Especialista em gerenciamento de crises e em marketing político, tendo participado de várias campanhas vitoriosas.

 

3 thoughts on “Cinco letras que choram. Por Carlos Brickmann. Especial Eleições 2018

  1. Ótimo texto. Um tanto agridoce, mas na medida certa. Com todo respeito, no entanto, quero corrigir algo: Dória não passou a mão no traseiro de Alckmin – ou, ao menos, não ficou só nisso. Já que passeava pela área, aproveitou a oportunidade e, com o dedo em riste, fez, digamos assim, movimento mais profundo…. O doutor careca, que em princípio imaginou tratar-se de benigno exame de próstata, logo percebeu as reais intenções, recreativas e eleitoreiras, do amigo da onça. E terminou a história resmungando pelo caminho.. Tadinho.

  2. Analisando a situação da campanha presidencial do WAlckmin Dead constatamos que ela padece de 6 problemas: 1) associou-se aos quadrilheiros corruptos (Centrão) que estavam com o Luladrão em 2002; 2) Alguns quadrilheiros no Nordeste fazem campanha junto com o Luladrão e seus simpatizantes; 3) a turma mais Liberal debandou do partido ( Livres e o Gustavo Franco). Ficaram os mais a esquerda. 4) nunca fizeram oposição para valer aos PTralhas, aliás não tentaram fazer o impeachment do Luladrão em 2005 por causa do mensalão , 5) FHC aventou a possibilidade de apoiar o PT no 2o. Turno; 6) Nunca defenderam para valer as privatizações. Eles fizeram das Telecomunicações que deram excelente resultados: hoje todo mundo tem celular!!! Os resultados disso estão nas pesquisas eleitorais. Se continuar assim, ele corre o risco de ser “cristianizado”. Se ele não liderar no estado de SP, ele está fora do jogo, por que se aqui (SP) ele não consegue votos, muito provavelmente não vai conseguir compensar com os votos das outras regiões!!! O PSDB está em vias de virar partido nanico..

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