Benedetto, o maledetto. Coluna Mário Marinho

Benedetto, o maledetto.

COLUNA MÁRIO MARINHO

Tenho uma amiga, filha de italianos que, se não estivesse tomada pelo mal de Alzheimer, com certeza estaria assistindo ao jogo do Palmeiras contra o Boca, na noite dessa quarta-feira.

E assim que Benedetto tivesse marcado o segundo gol do Boca, ela se levantaria, se postaria frente à televisão e diria em alto e bom som para a TV e para quem estivesse na sala ou nos arredores:

– Que Benedetto que nada, è maledetto. È maledetto.

E com a expressão misturando raiva e zombaria, acrescentaria ainda em alto, e muito alto som:

– Um sciacquetta.

Sciacquetta tem amplo significado em italiano: vai desde o tonto, o bêbado contumaz até à gíria que designa aquela mulher fácil de se conquistar.

Mas o Benedetto (na foto ao alto da coluna) que fez os dois gols do Boca está muito mais para o abençoado, o bem dito que para qualquer outra coisa.

Liquidou o Palmeiras e diminuiu bastante as possibilidades de o Verdão avançar na Libertadores.

Impossível?

– Non è impossibile!, exclamaria minha amiga dona Carmem, com gestos e sorrisos largos.

Foi noite de gala em Buenos Aires, noite propícia para receber dois dos maiores times de futebol da América do Sul; dois dos maiores vencedores.

Dentro de campo, os dois se respeitaram como dois lutadores peso pesado se respeitam: sabem que um golpe bem aplicado pelo adversário pode jogar à lona.

Assim, o jogo foi tenso, muito disputado mas fraco de emoções.

Um jogo até muito leal para os parâmetros de Brasil x Argentina.

O segundo tempo mostrou um Palmeiras mais senhor de si, mais seguro, mais determinado a assegurar o empate e só arriscar o gol adversário na boa.

Mas, eis que aos 31 minutos do segundo tempo, entra Benedetto.

Seis minutos depois, ele escora uma boa cobrança de escanteio pelo alto e conta com um segundo de vacilo da zaga do Verdão. Um segundo é o bastante: 1 a 0.

Foi o tal golpe do peso pesado. O Palmeiras foi à lona. O juiz abriu contagem, mas o Verdão se levantou. Ainda meio grogue, tentando se recompor, recebe o segundo e fatal golpe.

Benedetto recebe na entrada da área e, com um drible curto, rápido e belíssimo tira o zagueiro Luan da jogada e marca: 2 a 0.

– Maledetto, sciacquetta! Teria praguejado Dona Carmen com gritos que seriam ouvidos lá em Buenos Aires.

Na semana que vem, a Arena Allianz Parque estará lotada à espera, talvez, de um miracolo. Dona Carmen, se ouvida a respeito, afirmaria com segurança:

– È possibile vincere.

Sim, também acho que o Palmeiras pode vencer o Boca. Mas, conseguirá a vitória do tamanho da classificação?

… solo Dio lo sa.

Cem anos
de preocupação

No dia 24 de outubro de 1918, o Estadão tornava pública a preocupação de seu leitor com a carta que se segue:

“Escreve-nos um dos nossos assignantes de Mogy-Mirim, dizendo que, apesar das insistentes e opportunas recommendações do Serviço Sanitário para que cada qual evite fadigas e excessos physicos, funcciona diariamente naquela cidade um club de “football”, cujos sócios realisam no respectivo “ground” animados “trainings”, não obstante o calor asphyxiante dos últimos dias. No dia 11 do corrente, entregavam-se os rapazes ao violento jogo “bretão” quando, em certo momento, o jogador Dario Palhares era attingido pela bola na região epigástrica, fallecendo momentos depois. Não era caso para que a policia prohibisse, ao menos por agora, o “football”?

Embora o Estadão não fosse amante do “violento jogo bretão” sua indignação se devia não apenas à prática do esporte, mas, também ao fato de que o País sofria com a Gripe Espanhola e, na falta de remédios mais eficazes, as autoridades recomendaram que esforços físicos e aglomerações fossem evitados.

Gols da quarta-feira

https://youtu.be/b3_dnk5SoZA

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FOTO SOFIA MARINHOMário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

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