Dia das Mães e armas de fogo. Por Meraldo Zisman

DIA DAS MÃES E ARMAS DE FOGO

MERALDO ZISMAN

  Não sei se convirá à minha mãe estar armada, pois suas mãos, com a idade, ficaram muito trêmulas. Tampouco sei se ela vai gostar, porém ela, não sei, vai atemorizar o assaltante que entrar na sua casa.

Desde a Idade Antiga há relatos de rituais e festivais em torno de figuras mitológicas maternas e de fenômenos como a fertilidade.

Na Idade Média havia também muitas referências à figura da Mãe, sobretudo o simbolismo judaico-cristão com as figuras de Eva e Maria.

Mas foi apenas no início do século XX que as mães passaram a ter um dia oficial para serem homenageadas. A escolha da data (todo segundo domingo de maio) remete à história da americana Anna Jarvis. Anna Jarvis perdeu sua mãe, Ann Marie Reeves Jarvis, em maio de 1905, na cidade de Grafton, no estado da Virgínia Ocidental, EUA.

Com a morte da mãe, Anna, diante do sofrimento e da dor que sentiu, decidiu organizar com a ajuda de outras moças um dia especial para homenagear todas as mães e ensinar às crianças a importância da figura materna.

Anna e suas amigas eram ligadas à Igreja Metodista da cidade mencionada acima. Em 10 de maio de 1908, o grupo de Anna conseguiu celebrar um culto em homenagem às mães na Igreja Metodista Andrews, em Grafton. A repercussão do tema do culto logo chamou atenção de líderes locais e do então governador do estado de Virgínia Ocidental, William E. Glasscock. Glassock definiu a data de 26 de abril de 1910 como o dia oficial de comemoração em homenagem às mães.

 É comum, no mundo contemporâneo, a comemoração do Dia das Mães em todo segundo domingo de maio. As datas variam tanto que em Portugal a comemoração é no primeiro domingo de maio. Mas o que vale é a intenção e o amor filial.

O fato é que eu não sabia qual o presente que iria comprar para a minha genitora no seu dia. Li nos jornais de hoje e de toda a semana o noticiário sobre armas de fogo, seu porte e o direito de defesa. Não sabia o que presentear a minha mãe. Como somos moldados e temos os nossos gostos formados em grande parte pela mídia e sua propaganda, não fugi à regra geral. Nasceu em mim a ideia de presenteá-la com um revólver 38 com cabo de madrepérola. Como não entendo de armas, vou pedir orientação ao vendedor e aproveito para adquirir uma arma mais simples para mim.

Vou pagar com meu Credicard em três vezes sem juros. Como não sei atirar vou me matricular numa escola de tiro ao alvo, aqui perto. Não sei se convirá à minha mãe estar armada, pois suas mãos, com a idade, ficaram muito trêmulas. Tampouco sei se ela vai gostar, porém ela, não sei, vai atemorizar o assaltante que entrar na sua casa.

Nessa história de armas só tenho absoluta certeza de uma coisa: só sei que nada sei e que não se pode saber nada com absoluta certeza, mas se pode sentir confiante acerca de certas coisas. Poucas.


Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).

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