Livre pensar com McLuhan, Umberto Eco e Nelson Rodrigues. Por Angelo Castelo Branco

LIVRE PENSAR COM MCLUHAN, UMBERTO ECO E NELSON RODRIGUES

ANGELO CASTELO BRANCO

… O grande Umberto Eco abriu o caminho das advertências ao mundo das redes sociais, em conferência na Universidade de Turim, em 2015. “As mídias sociais deram direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar danos à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do prêmio Nobel”…

 Informação correta é poder. E a expansão da internet provocou um fenômeno carregado de contradições. A imprensa perdeu a velha prerrogativa ou monopólio de única a chegar primeiro com as novidades. Qualquer fato de interesse coletivo não leva mais do que alguns segundos para ganhar o mundo. Esse gatilho foi previsto há 50 anos pelo filósofo e pai do moderno conceito de comunicação social, Marshall McLuhan.

 Os concluintes de Jornalismo de 1970 entregavam-se de corpo e alma à essa tese revolucionária que levaria vinte anos para se tornar realidade. A internet, como ouvíamos, estreitou tão extraordinariamente as distâncias entre os povos que as notícias se propagam instantaneamente, como se o planeta fosse uma diminuta comunidade. Com a tese da Aldeia Global, McLuhan acertou na mosca.  Adeus furos de reportagens que dormiam uma noite inteira invioláveis nas rotativas de um periódico.

 Porém, nem tudo seriam flores nesse planeta de instantaneidade. O espaço disponível à propagação de fatos e opiniões impôs riscos de desinformação, de manipulação desonesta da informação e inaugurou também a era dos conflitos com os protocolos éticos e acadêmicos. O ouro e o lixo convivem no mesmo espaço.

…O jornalismo evoluiu para o status de um laboratório científico. O fato deve ser apurado milimetricamente, isento de quaisquer influências econômicas ou ideológicas. Sem pedigree a informação fenece em poucos minutos…

 O grande Umberto Eco abriu o caminho das advertências ao mundo das redes sociais, em conferência na Universidade de Turim, em 2015. “As mídias sociais deram direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar danos à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do prêmio Nobel”.

 O destampatório de Umberto Eco reforçava a teoria apimentada e muito bem humorada do brasileiríssimo Nelson Rodrigues. Décadas atrás, em sua coluna do jornal O Globo ele pontificava: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.

 Essa desmedida concorrência com as mesas de bar de Umberto Eco e os idiotas de Nelson Rodrigues, leva o jornalismo ao status de grife. Rapidamente o mundo está entendendo que as informações em circulação nas redes sociais são confiáveis quando carimbadas pelas empresas de comunicação. O jornalismo evoluiu para o status de um laboratório científico. O fato deve ser apurado milimetricamente, isento de quaisquer influências econômicas ou ideológicas. Sem pedigree a informação fenece em poucos minutos.

 O produto levado ao leitor terá de ser puro e higienizado. As análises publicadas serão tão mais acreditadas quanto mais próximas das possibilidades. O abstrato perdeu espaço para o pragmatismo. O deleite ideológico curva-se ante as demandas por eficiência. O jornalismo digital ganha dimensões extraordinárias.

 Verificamos mudanças importantes nas relações entre a mídia e o poder. Grupos até então fortemente dependentes de orçamentos públicos, estatais nas receitas e privados nos lucros, tomam novos rumos. Seus eventuais deslizes causam respostas instantâneas e danos consideráveis pelas redes sociais.

Nessa reengenharia da sobrevivência as mega corporações de comunicação contam com executivos e profissionais do mais elevado nível, capazes de seguir a mesma trilha exitosa do New York Times. O jornalão americano enxergou a crise antes.

 Incorporado à era digital, forte e altivo, o NYT se prepara para atender a 10 milhões de assinantes e paga 105 mil dólares de salário por ano a um repórter iniciante. Detalhe este que dá a dimensão de inseparável responsabilidade nas matérias que publica.

 O mundo não vai acabar e muito menos o Brasil. Chegaremos lá tal como o vizinho do hemisfério Norte chegou. Mas, enquanto estamos em transe, padecemos dos efeitos da aldeia desenhada por McLuhan sem escapar dos vaticínios de Umberto Eco e Nelson Rodrigues.

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Resultado de imagem para Angelo Castelo Branco, jornalistaAngelo Castelo Branco –  Jornalista. Recifense,  advogado formado pela Universidade Católica de Pernambuco. Com passagens pelo Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Diário de Pernambuco, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, como editor, repórter e colunista de Política.

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