Nosso ultimo jantar coletivo no Humaitá (2014)

Sem Nani, um Halloween sem graça. Por Wladimir Weltman

NANI
Nosso ultimo jantar coletivo no Humaitá (2014)

Meu amigo, o cartunista Nani era meio bruxo. Sabia das coisas. Digo isso porque hoje, quando estava acordando, não sei de onde, comecei a pensar nos meus amigos mortos. Acho que era o Nani mexendo com a minha cabeça…

Dias atrás foi-se meu colega de redação do ZORRA TOTAL, Caike Luna. Muito jovem (42 anos), o câncer o levou. Passei os dias macambúzio a relembrá-lo.

Tendo a proximidade da festa de Halloween aqui nos EUA, que as decorações nas ruas não me deixam esquecer e fazendo a natural associação com o Dia de Todos os Santos, instituído pelo Papa Gregório III no século 8, parei pra pensar nos meus queridos amigos do humor que já se foram.

Nossa redação do ZORRA tinha em torno de 21 roteiristas. Ao longo dos últimos anos perdemos vários: em 2011 nos despedimos do querido ator e roteirista Bernardo Jablonski; em 2014 foi a vez do Gugu Olimecha, um verdadeiro mestre do humor e nosso anjo da guarda na redação; e no domingo, dia 3 de outubro, foi a vez do Caike. Com carinho e saudade, ainda na cama, pensei nos três.

Minha mente seguiu pensando noutros colegas incríveis que também fizeram parte da família do ZORRA TOTAL e que se foram recentemente. Comediantes maravilhosos com quem tive privilégio de conviver e trabalhar. Gente como o genial Chico Anísio, que morreu em dezembro 2012; Paulo Silvino, em agosto de 2017; Agildo Ribeiro, em abril 2018; o nosso diretor Mauricio Sherman em outubro de 2019; e, em julho deste ano, foi-se o nosso centenário Orlando Drummond, todos os três da geração do meu pai, alguns deles bons amigos do meu velho.

Mal havia me despertado completamente e, por hábito, peguei no celular para saber das novidade e descobrir com tristeza, que minha galeria de santos humorados ganhava um novo ocupante: meu querido amigo Nani. Esse mineiro debochado tinha que ir-se exatamente no mês em que as crianças se fantasiam para brincar com as almas?

Poxa, Nani, você superou a ditadura trabalhando no Pasquim, um transplante de fígado dos diabos e foi dar mole para o Covid? Estou muito triste. Triste e preocupado. Como começar meus dias sem ver uma charge sua no Facebook pra me alegrar nesses tempos macabros?

Nunca mais vais desenhar charges tirando sarro da minha cara. Nunca mais te darei carona pra casa, ou ouvirei tuas histórias desconcertantes.

O mundo ficou muito mais sem graça hoje. O maior operário do humor foi embora. Alguém que todas as horas do dia pensava em alguma coisa pra nos fazer rir. De onde você tirava energia para produzir tanto?

Descansa em paz, Nani. Você merece esse descanso. E, por favor, não implique comigo…

 

 

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WLADIMIR WELTMAN – é jornalista, roteirista de cinema e TV e diretor de TV. Cobre Hollywood, de onde informa tudo para o Chumbo Gordo

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