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Eletricidade. Por José Horta Manzano

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Independência energética – 1

Faz uma semana, foi inaugurado o mais longo cabo submarino de transmissão de eletricidade. Com seus 720km de comprimento, liga a Grã-Bretanha à Noruega, e custou uma fortuna. Segundo o anúncio oficial, “os dois reinos podem, a partir de agora, compartilhar suas energias renováveis”.

Num momento em que o preço mundial do gás está nas alturas, a novidade é bem-vinda. A troca de eletricidade funciona de modo singular. Quando venta forte na Inglaterra (país onde o que não falta é vento), as turbinas eólicas giram a todo vapor. Nessas horas, a produção de eletricidade é superior ao consumo. Como ensinou doutora Dilma, não é possível estocar vento. Nessas horas de superprodução, o cabo serve para exportar eletricidade para a Noruega a preços de liquidação. Na Noruega não venta tanto.

Enquanto consome a eletricidade inglesa, a Noruega deixa que a chuva e o derretimento da neve encham suas barragens. Assim que estão cheias e de novo prontas para produzir energia, é hora de fazer o caminho inverso. O excesso vai, pelo mesmo cabo, para a Grã-Bretanha, levando força e luz a precinho camarada. Na Grã-Bretanha, a topografia não permite a construção de barragens importantes.

O sistema é um achado. É daquele tipo de ideia que a gente se pergunta por que não pensaram antes.

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Independência energética – 2

Na semana que passou, foi inaugurado o maior parque solar do estado de São Paulo. Construído por uma empresa de origem portuguesa, é o quinto entre os maiores parques brasileiros. Situado às margens do Rio Tietê, no oeste do estado, necessitou investimento de 750 milhões de reais e gera energia suficiente para suprir as necessidades de 750 mil pessoas.

Fazendo as contas, dá 1000 reais por habitante. É uma quantia que, no final, não me parece elevada, tendo em vista os benefícios. Se, por hipótese, se decidisse produzir energia solar suficiente para os 200 milhões de brasileiros, seria necessário investir 200 bilhões de reais – o que não me parece exagerado. (Com os bilhões constantemente surrupiados do Tesouro Nacional, daria pra cobrir o território nacional de parques solares. Rapidinho.)

É claro que meu devaneio é teórico, pois há que pensar ainda na transmissão da energia gerada. Há que lembrar ainda que, na hora de consumir energia, certas indústrias são bem mais gulosas. Por seu lado, não se pode esquecer que já existe uma rede instalada de produção de eletricidade.

Tendo em mente que gás e petróleo são fontes de energia fadadas a sumir do cardápio dentro em breve, está mais que na hora de decidir o caminho a seguir quando a energia fóssil estiver aposentada.

Em teoria, o Brasil é um país que não precisava usar nem uma gota de petróleo nem de gás. Para extrair energia solar, temos sol o ano inteiro – o que nem sempre ocorre em outros lugares.

Quanto à água, se sobrar alguma depois que Bolsonaro passar, poderemos continuar explorando a energia hidrelétrica.

Embora não possa ser estocado (Doutora Dilma dixit), temos muito vento. Não dá pra guardar vento no bolso, mas dá pra conservar energia em baterias, por exemplo.

Nosso país tem tudo o que precisa pra abandonar toda fonte de energia fóssil. Tenho certeza de que o caminho é esse. Por enquanto, está um pouco complicado, mas assim que o capitão desaparecer e deixar de atrapalhar, vamos dar passos largos na boa direção.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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