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Envelhecimento e juventude. Por Meraldo Zisman

“ENVELHECIMENTO E JUVENTUDE: COMBATENDO O TÉDIO E A EXCLUSÃO SOCIAL”

Como psicoterapeuta, gostaria de compartilhar uma reflexão com os leitores sobre a relação entre velhice, juventude e tédio. Começo citando Buda, que, ao fugir de seu confinamento principesco, teve um choque ao avistar um velho pela primeira vez. A expectativa de vida tem aumentado significativamente nas últimas décadas, trazendo consigo novos desafios econômicos, como a questão das aposentadorias e pensões, e uma redução progressiva da taxa de natalidade. Isso, somado à legalização do aborto, às pesquisas com células-tronco e à eutanásia, gera uma série de preocupações sociais e de saúde.

As mudanças estruturais da modernidade fazem com que os mais jovens se esqueçam da importância dos mais velhos na sociedade. O abandono social dos idosos resulta em exclusão familiar e social, deixando-os frequentemente isolados e relegados aos cuidados de profissionais treinados para lidar com suas necessidades, mas que nem sempre conseguem proporcionar uma atenção adequada e afetuosa. O problema da velhice desamparada não se esgota nas casas de repouso ou nos lares para idosos. A verdadeira questão é: o que fazer com essa população envelhecida e desamparada? A sociedade ainda não sabe lidar com o aumento da duração da vida, e muitos filhos acabam se dedicando integralmente ao cuidado dos pais idosos, abdicando de suas próprias vidas.

Além disso, a cultura atual está marcada pelo espetáculo, pelo narcisismo, pela violência e pelo consumo excessivo. É importante que todos nós, independentemente de nossos interesses pessoais, denunciemos essas práticas e façamos valer a deontologia intelectual. Como adultos responsáveis pelo comando do teatro da vida precisamos olhar com atenção para a situação da juventude atual, que muitas vezes se encontra ainda mais desamparada do que os idosos. Precisamos nos perguntar: o que podemos fazer para ajudar esses jovens a se desenvolverem de maneira saudável e equilibrada?

No mínimo, eles terão a chance de escolher o tipo de asilo em que querem viver quando envelhecerem. Pelo andar da carruagem e pelo progresso médico, muitos de nós alcançaremos a idade provecta um dia e precisaremos contar com o apoio da sociedade para viver com dignidade e respeito.

Devemos pensar em soluções para melhorar a qualidade de vida dos idosos, como a criação de programas de inclusão social e a valorização do papel dos idosos na sociedade. É preciso combater a exclusão e o tédio que muitos idosos enfrentam e criar oportunidades para poderem se sentir úteis e realizados.

Ao cuidarmos dos idosos, estaremos cuidando de nós mesmos e da nossa própria velhice.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

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