herança

A herança e a pontuação. Por José Horta Manzano

Herança vai para…A historieta mostra a importância da pontuação. Sem pontos, exclamações, vírgulas & companhia, o texto pode ficar ambíguo ou até confuso.

herança

Talvez o distinto leitor e a graciosa leitora já tenham ouvido esta historinha. Mas sempre vale a pena ver de novo.

Um homem rico agonizava em seu leito de morte. Pressentindo o fim próximo, pediu papel e caneta e escreveu:

DEIXO MEUS BENS A MINHA IRMÃ NÃO A MEU SOBRINHO JAMAIS SERÁ PAGA A CONTA DO PADEIRO NADA DOU AOS POBRES.

Mas morreu antes de fazer a pontuação. Para quem o falecido deixou a herança? Os pretendentes mencionados no testamento eram quatro.

      1. A irmã foi a primeira a chegar. Pediu uma cópia do papel e pontuou assim:

Deixo meus bens a minha irmã, não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

      1. O sobrinho veio em seguida e refez a pontuação:

Deixo meus bens a minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

      1. Chegou o padeiro e pediu cópia do original. Foi sua vez de pontuar:

Deixo meus bens a minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

      1. Por último, vieram os pobres da cidade. Um deles, sabido, fez esta pontuação:

Deixo meus bens a minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

A historieta mostra a importância da pontuação. Sem pontos, exclamações, vírgulas & companhia, o texto pode ficar ambíguo ou até confuso.

A historinha da herança, que corre há anos pelas redes, foi bolada justamente para divertir. A intenção do autor foi por certo provocar umas risadas do leitor.

Meu bom amigo Aldo Bizzocchi, que é doutor em Linguística e amante das letras, me enviou uma historinha que lembra a do testamento. Só que… é verdadeira! A chamada foi recortada do site de notícias g1. Aqui está:

herança

De tão mal escrita, a frase pode até dar a entender que quatro filhos da infeliz senhora tenham sido mortos no tribunal. (Com a ousadia típica dos executantes ligados ao nascente narcoestado brasileiro, um quádruplo assassinato praticado dentro do Palácio da Justiça já não espantaria ninguém.)

Descartada a hipótese do acerto de contas na base da faca e da asfixia, resta ler e reler o texto para entender a intenção do autor. Na realidade, ele quis contar o caso todo em uma frase só – uma perda de tempo. Nem vou arriscar reescrever a chamada. Sob risco de criar frases incompreensíveis, é sempre melhor partilhar as ideias em duas ou três frases menores.

Sugere-se ao autor da chamada que pense nisso da próxima vez.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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