
Cânhamo, agro e moda. Por Ana Fábia Martins
Cânhamo, agro e moda – uma parceria de futuro sustentável
Em uma comparação rápida com o algodão nos critérios de uso de defensivos, pegada hídrica, pegada de carbono, rotatividade de lavouras e durabilidade das fibras, a fibra de cânhamo apresenta uma performance muito superior e mais amiga do meio ambiente.
(Saiba mais: evento sobre o tema, 27 de maio.
Informações e link abaixo)
A indústria da moda é uma potência. Uma economia estimada em 4 trilhões de dólares, geradora de mais de 60 milhões de postos de trabalho no mundo, em sua avassaladora maioria, mão de obra feminina. Da produção total de algodão do globo por exemplo, aproximadamente 70% tem como destino a manufatura de tecidos, vestuário e artigos de moda, fazendo dele uma das fibras naturais mais importantes do setor têxtil e sua matéria prima número um em importância. É a fibra mais conhecida, produzida e utilizada. O Brasil é um dos líderes em sua cultura, e o primeiro do mundo em produtividade por hectare.
Nosso país contabiliza mais de uma dezena de fibras naturais principais, de acordo com o Ministério da Agricultura, que estão devidamente representadas na Câmara Setorial de Fibras Naturais: algodão, sisal, juta, malva, rami, banana, coco, linho, seda, bambu e o cânhamo, sendo esta última representada pela Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis, da qual sou vice-presidente para relações internacionais. https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/camaras-setoriais-tematicas/camaras-setoriais-1/fibras-naturais
De todas as fibras citadas, o algodão é de longe a mais produzida e, atualmente, a mais lucrativa. Porém, em termos de retorno, a fibra de cânhamo poderá facilmente superá-la em breve tempo, pois, mesmo sem ainda possuir uma base industrial consolidada para seu processamento e transformação em produtos têxteis, papel, plásticos, móveis, etc., a fibra de cânhamo é internacionalmente considerada a principal “competidora” da fibra de algodão pela produtividade, baixo impacto ambiental, lucratividade e robustez no campo.
Isso não significa que a cultura do algodão desaparecerá ou que todos os cultivos de algodão serão magicamente substituídos pelos de cânhamo, nova (antiga) cultura que está entre nós desde o período neolítico, tendo sido domesticada pela humanidade mesmo antes do algodão. Porém, será mais uma opção interessante com potencial de excelente retorno para o agricultor.
Em uma comparação rápida com o algodão nos critérios de uso de defensivos, pegada hídrica, pegada de carbono, rotatividade de lavouras e durabilidade das fibras, a fibra de cânhamo apresenta uma performance muito superior e mais amiga do meio ambiente.
Então, por que ainda existe tanta relutância em discutir a adoção da cannabis industrial como uma nova cultura agrícola com reais possibilidades de exercer importante papel na transição para uma economia de baixo carbono?
O conceituado engenheiro agrônomo e apresentador Evaristo de Miranda, em sua coluna na Revista Oeste, https://www.revistaoeste.com/revista/edicao-269/cannabis-e-agro/ dedicou um artigo ao cânhamo, ensinando que, com pouco uso de defensivos e adubação, o cânhamo resiste à seca, se adequa a vários solos, além de ajudar a quebrar ciclos de doenças em rotação de cultivos, protegendo o solo por conta de sua densa folhagem e profundas raízes, evitando escoamento e erosão. Além disso, a transformação da fibra é totalmente mecânica, o que é uma vantagem competitiva importantíssima em tempos de necessidade absoluta de adoção de novos padrões mais ecologicamente sustentáveis de produção e consumo (ODS12).
Mais de 100 países já regulamentaram. Na Europa, a França destaca-se como maior produtora de cannabis agroindustrial, com destaque para a produção de fibras e sementes. Nos Estados Unidos, país que encabeçou a guerra às drogas no início do século XX, a planta vive seu renascimento após a edição do Hemp Farming Act de 2018. No Brasil, o Ministério da Agricultura vem trabalhando, ainda que a passos lentos, na edição de normativas voltadas à regulamentação do cultivo do cânhamo para fins industriais.
O caminho para uma indústria têxtil mais limpa e sustentável certamente passa pela adoção desta nova (antiga) cultura.
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Ana Fábia R. de O. Ferraz Martins – Advogada especialista em Direito e Negócios Internacionais e Moda. Conselheira Consular da França no Brasil.
ATENÇÃO! – EVENTO
Debates, especialmente diante das recentes movimentações da AGU, MAPA e ANVISA no cumprimento da decisão do STJ sobre o cultivo de Cânhamo Medicinal no Brasil:
Se ainda não se inscreveu, aproveite e faça agora: https://forms.gle/RRBDZssEKou65vKy7
Durante a live, especialistas vão apresentar análises técnicas, jurídicas e regulatórias, com destaque para:
– Os pontos centrais do parecer da ABICANN sobre o atual cenário;
– As etapas do Plano de Ação da União;
– E as recomendações para destravar o setor de forma segura, responsável e alinhada às diretrizes do STJ.
Excelente texto.