
Assessorado por poderosos (e caros) advogados, o figurão, via de regra, se apresenta como anjo que acaba de escorregar de uma nuvem e que não entende bem o que está fazendo no recinto.
Uma só estratégia: safar-se. Por José Horta Manzano
Estratégia…Falta-lhes aquilo que, mesmo nos momentos mais duros da vida, engrandece o ser humano: a coragem de assumir os próprios atos.

Tenho observado de longe a audição, no STF, dos envolvidos nos anos de inconfidência que desembocaram e se revelaram às claras no 8 de janeiro. Alguns momentos são hilários, outros são afligentes, muitos são enervantes, mas um comportamento é comum a todos os depoentes: nenhum deles confessou os crimes de que é acusado.
Falta-lhes aquilo que, mesmo nos momentos mais duros da vida, engrandece o ser humano: a coragem de assumir os próprios atos. Todos se defendem, negam, minimizam, se esgueiram, até ensaiam um magro pedido de desculpa – mas nenhum, até agora, teve a hombridade de declarar: “Sim, senhor Ministro, fui eu, reconheço. Hoje estou triste e amargurado por ter feito isso, mas já não há o que fazer. O que está feito, está feito.”
Sorte têm esses réus, todos eles arautos da linha dura de um AI-5 e de um regime militar dos bons. Sorte tem eles de não estarmos mergulhados nas trevas de um regime de exceção. Se estivéssemos na vigência do “pranteado” AI-5, todos eles já chegariam ao STF com a confissão na ponta da língua, contada e repetida pra quem quisesse ouvir. Em matéria de reconhecer crimes, o cidadão que passou pelos porões, paus-de-arara e fios desencapados, aprende rápido que convém confessar logo.
É curioso observar que, no Brasil, se alguma rara confissão de crime ocorre, é geralmente no andar de baixo, com réu preto, pobre, pé de chinelo. Já no andar de cima, é fato pra lá de raro. Assessorado por poderosos (e caros) advogados, o figurão, via de regra, se apresenta como anjo que acaba de escorregar de uma nuvem e que não entende bem o que está fazendo no recinto.
E assim seguimos: entre os que pagam por tudo, até pelo que não fizeram, e os que não pagam por nada — nem pelo que fizeram diante de câmeras e testemunhas. Vamos ver no que dá esse circo montado no STF, com seu espetáculo em capítulos.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
“É curioso observar que, no Brasil, se alguma rara confissão de crime ocorre, é geralmente no andar de baixo, com réu preto, pobre, pé de chinelo. Já no andar de cima, é fato pra lá de raro. Assessorado por poderosos (e caros) advogados, o figurão, via de regra, se apresenta como anjo que acaba de escorregar de uma nuvem e que não entende bem o que está fazendo no recinto.”
Quando os grandes confessam, o STF desconsidera a confissão e determina que o confessor mentiu.
Pois é, que o diga a Lava Jato, não? vide Palocci e “tutti quanti”