A volta da Federal. Coluna Carlos Brickmann

A volta da Federal

Coluna Carlos Brickmann

Edição dos jornais de Quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A trégua eleitoral, que não permite prisões, exceto em flagrante, nos cinco dias anteriores e nos dois posteriores aos pleitos, acaba de encerrar-se. Este colunista tem o palpite de que, depois da exibição nas eleições da atual popularidade do ex-presidente Lula, algumas investigações ganharão velocidade. Para usar a imagem citada pelo próprio Lula, o objetivo é pisar na cabeça da jararaca, no mínimo para anulá-la.

O grande manancial de informações é a documentação apreendida na Odebrecht, que ainda pode ser enriquecida pela delação premiada de diretores da empresa e, talvez, do próprio Marcelo Odebrecht. Mas o material apreendido vale o trabalho investigativo: organizadíssima, a empresa tem um Setor de Operações Estruturadas que relaciona as propinas uma a uma, incluindo quantia, local e modo de entrega, e destinatário. Uma dessas planilhas é exclusiva de um destinatário chamado “Amigo” – e, pelo que dizem, em vez de “Amigo” poderia chamar-se “Cumpanhêro”.

E há Leo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS, que sabe tudo sobre o apartamento triplex que não é de Lula. Pinheiro já contava sua história quando houve um vazamento de informações. As autoridades consideraram que o compromisso com Pinheiro, que envolvia penas mais brandas, estava rompido, e descartaram sua delação. Mas isso pode mudar.

Contra político que perdeu apoio popular, até o impossível é possível.

Novos tempos

Zeca Dirceu, filho de José Dirceu, duas vezes prefeito de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, lançou Dayana Mazzer para a Prefeitura. Dayana foi batida por Beto da Lotérica, que teve o dobro de seus votos.

Em São Paulo, das 58 zonas eleitorais, Marta venceu em duas, e Dória em 56. O prefeito Fernando Haddad, candidato de Lula, em nenhuma.

Em todo o país, o número de vereadores do PT se reduziu a pouco mais da metade. A porcentagem exata da queda: 44,8%.

O PT tinha 644 Prefeituras, entre elas a de São Paulo. Caiu para 237, e uma só, Rio Branco, no Acre, é capital. Seu número de eleitores caiu de 17,4 milhões, em 2012, para 6,8 milhões agora em 2016. É recuperável, mas trabalhoso.

Tentando explicar

Além das versões de sempre – a culpa pela derrota nacional do PT é de juízes antipetistas, apoiados pela mídia golpista – surgiu uma nova: muita gente não votou, o que enfraqueceu os candidatos petistas – só eles. Que muita gente votou nulo, se absteve ou faltou, é verdade: 40 milhões, num total de 114 milhões. Conclusão: mostravam o desgosto, que o PT partilha, pela situação do país. Logo, são petistas que não saíram do armário.

Mas não é bem assim: este colunista, temporariamente (tomara!) em cadeira de rodas, não pôde votar. Sua seção só tinha acesso por escada. O candidato que receberia o voto não tinha nada com isso.

Sabedoria eleitoral

Do jornalista Mário Mendes, normalmente peçonhento e inteligente: “Sobre o dia de hoje só digo: O voto é secreto mas choro é livre. Bom dia!”

Les fatigués

Não faz tanto tempo assim: foi em 2007 que surgiu o “Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros”, ou simplesmente Cansei, que pretendia se transformar numa frente de luta contra o excesso de impostos e a favor da saída do presidente Lula (seu slogan era “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”). Não deu certo, durou pouco.

O Cansei foi organizado pela OAB de São Paulo e empresários, entre os quais se destacavam Paulo Skaf e João Dória Jr.

Saber perder

A vitória é alegre e cordial, com abraços sucessivos, muitos aperitivos e até, com sorte, a alguns tira-gostos. A derrota é feia, selvagem. No Diretório Municipal do PT em São Paulo, uma equipe da GloboNews, comandada pela ótima repórter Andrea Sadi, que ao lado dos petistas acompanhava a apuração, foi hostilizada aos gritos de “golpista” e “fora daqui” durante uma entrada ao vivo. A equipe decidiu, por falta de segurança, deixar o local. A coletiva do prefeito derrotado Fernando Haddad não pôde ser transmitida.

Quem perdeu foi a opinião pública, que não teve acesso à opinião do prefeito. Quem perdeu, também, foi o próprio prefeito, impedido de transmitir sua posição ao público.

Acreditemos

Então, fica combinado assim:

Marta nunca foi de esquerda.

Fernando Haddad, numa virada sensacional, tinha a presença assegurada no segundo turno que não houve.

Lula, capaz de eleger um poste, faria de seu filho (que acabou perdendo) o vereador mais votado de São Bernardo, berço político e fortaleza do PT.

O tal apartamento triplex não é de Lula.

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