De volta à liderança. Coluna Carlos Brickmann

DE VOLTA À LIDERANÇA

COLUNA CARLOS BRICKMANN

 

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 9 DE AGOSTO DE 2020

Com pandemia e tudo, Bolsonaro parou de cair nas pesquisas, recuperou intenções de voto e hoje, de acordo com pesquisa Poder 360, seria o primeiro colocado no primeiro turno. No segundo, empataria com Sérgio Moro.

Pesquisa é retrato do dia. Dois anos antes das eleições, não significa nada. Mas, para os adversários, é melhor não subestimar Bolsonaro: tem um núcleo fiel de eleitores, que por ele sentem saudades até de Weintraub, manteve sua popularidade mesmo depois de declarações que indicavam pouco caso pelas vítimas da Covid, sustenta-se até com novos recordes de desmatamento e de queimadas na Amazônia, que já provocam reações de clientes internacionais.

Ainda é cedo, mas qual, de seus possíveis adversários, vem-se tornando uma alternativa viável? O governador do Rio, candidato declarado, tem de lutar para evitar o impeachment. O governador João Doria tem boa avaliação, deve sair candidato, comanda o PSDB, partido bem estruturado em todo o país, mas isso ainda não se refletiu em índices nacionais. Sempre se considerou que um governador de São Paulo é candidato forte, pelo cargo que ocupa, mas Geraldo Alckmin em duas ocasiões desmoralizou essa tese. E o PT – bem, esperava-se que Lula, ao sair da prisão, liderasse seu partido numa campanha nacional de oposição, apresentando-se como perseguido político, vítima de um sistema que deturpou a Justiça para afastá-lo do poder. Esperava-se. Mas o novo Lula parece muito diferente do Lula de sempre.

 Quem sobra?

Lula se recolheu, raramente fala, parece ter perdido o gás. Continua a liderar políticos como Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad, Washington Quaquá. Mas sua fraqueza atual já foi percebida por aliados que até agora eram incondicionais: já apoiam Manuela d’Ávila em Porto Alegre, pensam em lançar um candidato a presidente saído do PCdoB, eventualmente podem flertar até com Ciro Gomes. Nada impede que o realismo político predomine e haja quem possa esquecer o passado e aliar-se a Sérgio Moro. Mas Moro, que acumulou amplo capital político, nem escolheu um partido. E será que, daqui a dois anos, não terá sido esquecido por muitos que hoje o apoiam?

 Sozinho na raia

Em dois anos muita coisa pode mudar. Haverá os descontentes com o alto desemprego, haverá quem lembre as mortes da pandemia, haverá até mesmo empresários hoje simpáticos a Bolsonaro que correrão riscos pela compulsão do presidente em brigar com a China, por ideologia, e com a União Europeia, por demonstrar pouco caso com o desmatamento e os incêndios da Amazônia e com os problemas indígenas. Mas haverá também quem goste dos R$ 600,00 mensais, que de alguma forma se eternizarão na Renda Brasil. Lembre-se: o Nordeste por muito tempo foi reduto do PFL/DEM. A Bolsa Família levou o eleitorado a votar sistematicamente no PT. Em resumo, se a oposição quiser chegar ao poder, tem de montar sua estratégia, em vez de só confiar em novos erros de Bolsonaro. Ele erra, sim, e muito. Mas está na frente.

 As rachadinhas

Há incômodos no caminho de Bolsonaro – investigações sobre seu filho Flávio, pressão sobre divulgadores de notícias falsas, cerco ao Gabinete do Ódio. Há o Queiroz, com os depósitos na conta da mulher do presidente. Mas Lula, com todo o caso Mensalão/Petrolão, seria um candidato forte se não tivesse sido condenado e impedido de disputar pela Lei da Ficha Limpa.

Todos quietos

Lembra do ministro Osmar Terra Plana, dizendo que a Covid iria matar menos gente que as gripes de inverno? E do general Luiz Eduardo Ramos, o coordenador político do Governo, dizendo que o trânsito também mata muita gente e não provoca pânico? Com cem mil mortos no Brasil, silenciaram. Pena que o preço por esse bem-vindo silêncio tenha sido tão alto. Bolsonaro não se calou: “A gente lamenta todas as mortes. Mas vamos tocar a vida”.

 Pois é

Todos os dias, aqui no Brasil, morre nove vezes o número de vítimas da explosão de Beirute, que abalou o mundo. E nosso Governo não se abala.

 Procurando briga

Bolsonaro briga com a China por ideologia, com os europeus porque condenam suas teses sobre Amazônia e meio ambiente, com vizinhos porque não gosta de seus dirigentes. O ministro Paulo Guedes vai mais longe: foi puxar briga com os principais aliados de Bolsonaro, os EUA.

Motivo: empresários questionaram a política ambiental do Brasil. O Imposto Ipiranga acusou os americanos por desmatar suas florestas, pela escravidão, pelas guerras civis, pela morte de índios. É verdade: também dizimaram rebanhos de bisões, muitas vezes só para praticar tiro ao alvo. Claro que conhecemos um outro país que desmatou muito, teve escravidão, enfrentou guerras civis, matou índios. Paulo Guedes, que já disse que leu três vezes as obras de Keynes em inglês, talvez não se preocupe tanto com História em português.

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7 thoughts on “De volta à liderança. Coluna Carlos Brickmann

  1. Com tantos problemas que o Brasil atravessa, noto que há muita discussão sobre “eleição, reeleição” daqui há… dois anos, e isso falando de um indivíduo que, entre outras coisas que dizia e já mandou para o espaço infinito (principalmente a luta contra a corrupção), era contra a reeleição. Agora, o que me dá muita decepção é o apontado no terceiro parágrafo, “sozinho na raia”. Entra governo, sai governo e a situação é a mesma: manutenção do nordeste na pobreza com gente agradecida por migalhas. Quando penso que votei no Lula acreditando no sindicalista de origem humilde que iria alavancar o povo nordestino e no fim do primeiro ano já estava arrependido e me sentindo traído; votei no Bolsonaro contra o PT e agora o que impera é o bolsopetismo aliado ao centrão… Votar nulo, no futuro, seria uma solução ou vamos votar e tentar mais uma esperança?

  2. Devemos nos pergintar que maldição há sobre nós que, a 30 anos, desde essa tal constituição cidadã, somos vitimas decestelionato eleitoral. Collor era a salvação. Depois FHC. Depois Lula e o PT. Agora Bolsonaro. E todos, lá chegando, são invariavelmente dominados pelas forças ocultas a que se referia Janio Quadros, hoje conhecidas por “Mecanismo”. Há algo de podre no reino da Dinamarca, e enquanto não identificarmos e destruírmos esse câncer não há solução. E a solução só virá por uma revolução verdadeira, quando o povo explodir tudo. Talvez o exemplo hoje seja o Líbano.

  3. Sou fã de carteirinha do Carlinhos Brickmann, mas nem por isso concordo com tudo o que ele escreve e, como sabemos, discordar não é brigar. É somente ter uma visão diferente sobre alguma questão abordada pelo articulista. Vamos ao ponto. O presente comentário do C.B. trata de candidatos como se os mesmos não tivessem nada a ver com a pilhagem que o país sofreu na era petista, e agora com o Covidão, nem com a farsesca encenação de Doria no governo de São Paulo. Só há um candidato digno entre os apontados para concorrer com Bolsonaro: MORO. Ao fazer uma abordagem divorciada da dura realidade que nos foi legada por essa gente, dá a impressão de que ão águas passadas – e não são.

    1. Talvez a “pilhagem” que o Brasil sofreu na “era petista” tenha sido a própria Lava-a-Jato, certo, que causou um rombo 30 vezes maior do que aquilo que foi apurado…

  4. Penso que comparar o Lula de hoje, idoso e isolado pela pandemia, com o Lula de ontem, do poder e das ruas, é uma comparação inadequada. Outro ponto é que Lula está totalmente integrado e ativo nas mídias sociais e eletrônicas, tanto quanto qualquer outro agente político.

  5. Três vezes Maynard Keynes, o gênio leu.
    Em nenhuma delas, entendeu.
    Seiscentos paus, prometeu.
    E deu no que deu.
    Meses depois, muita gente não recebeu.

    (que bom seria se voltasse aos livros e procurasse citação sobre cpmf)

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