MORTE

A morte tudo encobre. Coluna Carlos Brickmann

A MORTE TUDO ENCOBRE

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2021

O general Mourão atribui corretamente a culpa pela brusca elevação dos casos de Covid às festas de fim de ano. Boa parte da população abandonou os cuidados, confiante em que o vírus estaria de folga. Mas termina por aí a razão do vice-presidente: ele disse que medidas como o isolamento social não são bem recebidas, que nosso povo não é disso; e repetiu aquela desculpa de mau perdedor, de que o STF proibiu o Governo Federal de atuar na área.

General, general: talvez o sr. não tenha visto, mas o presidente de quem é vice passou o período de isolamento social sassaricando por todo o país, em busca de aglomerações às quais se juntar; ia sem máscara aos rolês, falando mal de vacinas em geral, sugerindo que quem as tomasse poderia virar jacaré. Sendo gentis, diremos que Sua Excelência não acredite nisso. E, com tanta gente rastejando em seu redor, conhecedor de répteis certamente ele o é.

Fato real – e o general Mourão, inteligente, preparado, também o sabe: as mortes jamais despertaram tristeza no presidente da República. Usou as evoluções pelo país para reforçar sua candidatura em 2022 e tentar reduzir as chances de eventuais adversários. Ele nem disfarçou: chama-se Messias mas não faz milagre, não é coveiro, morrer todos morreremos. Uma palavra de compaixão pelas vítimas? Não – a propósito, que é compaixão?

Ele cultua a morte, ele cultua o mal – e por isso homenageia torturadores. E sabe que milhares de mortos são só estatística. Aqui, a morte tudo encobre.

 Vacinas…

O Brasil tem excelente reputação internacional em vacinação, institutos como o Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto Vital Brasil, todos de primeira linha. Por que a confusão na vacinação? Simples: logo no início da pandemia, o Instituto Butantan fez convênio com a Sinovac chinesa, para participar do desenvolvimento da vacina. A Fundação Oswaldo Cruz buscou acordo com o Imperial College de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca. São ótimos parceiros. Mas houve um pequeno atraso na vacina de Oxford.

 Se pensassem um mínimo na vida dos brasileiros, o normal seria iniciar a imunização com a vacina do Butantan. Mas, para Bolsonaro e o general Pazuello, isso foi encarado como derrota: “vacina do Doria”, não. Por isso Bolsonaro ironizou aquilo que chama de baixa eficiência da “vachina”. Achou que o imunizante tinha fracassado e festejou a vitória da morte.

 …a verdade

A guerra para evitar que a vacina do Butantan inicie a imunização é tão grande que Bolsonaro quis comprar na Índia dois milhões de vacinas Oxford. Como a Índia iniciou agora a imunização (em 1,35 bilhão de habitantes), ainda não iniciou as exportações. Não faz mal: o Governo brasileiro fretou um avião da Azul para ir à Índia buscar as vacinas. Até a noite de sexta-feira o avião estava parado, já que os indianos não queriam vender. Eles têm outra vacina, que muitas empresas privadas brasileiras querem comprar para imunizar funcionários e famílias, gratuitamente, por fora do SUS. Mas aí se perde o efeito eleitoral, né? E o Governo não autoriza.

Em compensação, exige que o Butantan lhe entregue as seis milhões de vacinas que pretende usar a partir do dia 25, sem frescura de Dia D e Hora H. Vai parar na Justiça.

 Cadê as vacinas?

A Pfizer passou seis meses oferecendo vacinas ao Brasil. A OMS montou consórcio com vacinas a preço favorecido. O Brasil comprou o lote mínimo.

 A vida dos outros

Há tempos já se sabe que os estoques de oxigênio líquido na região Norte são precários. Que fez o Governo? Aumentou, no final do ano, os impostos de importação. De acordo com a BandNews FM, a alta do dólar já elevara os custos. Com os impostos, um cilindro grande, que custava R$ 1.000,00, foi para os atuais R$ 1.600,00. O Governo foi apanhado de surpresa? Talvez – mas por falta de atenção. Houve reunião do Ministério da Saúde em Manaus, descrita com precisão pela repórter Malu Gaspar na revista Piauí de janeiro. Um dos momentosos temas em debate foi a vida sexual do governador de São Paulo, João Doria. Frase de Zoser Plata Bondim Hardman de Araújo, assessor do ministro da Saúde: “Doria é o maior pau pequeno, um boiola”.

Faltam leitos, oxigênio? Bobagem. O tema é Doria – pau dele, pau nele.

 Atenção ao Exterior

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, que deve tomar posse no dia 20, já anunciou seu plano de recuperação da economia: inicialmente (talvez haja redução imposta pelo Congresso) o gasto será de US$ 1,9 trilhão – é grande, algo como 9% do PIB americano. Espera-se aumentar os benefícios aos mais carentes de US$ 600 para US$ 1,4 mil; aumentar o auxílio-desemprego de US$ 300 para US$ 400 por semana; US$ 400 bilhões para a distribuição de vacinas e incentivos à busca de remédios para Covid; US$ 350 bilhões para ajudar Estados e Municípios a cobrir déficits orçamentários; US$ 440 bilhões para pequenas empresas e comunidades atingidas pela pandemia.

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5 thoughts on “A morte tudo encobre. Coluna Carlos Brickmann

  1. Carlos Brickmann, no jornalismo com credibilidade que verdadeiramente é o que faz o Chumbo Gordo, você é o cara. Aguardo ansiosamente toda madrugada de quarta-feira e domingo para ler seus comentários. Tenho certeza de que o general Mourão tem conhecimento do que é publicado no Chumbo Gordo pois deve ter assessores competentes. Ficará corado de vergonha quando ler o que foi comentado hoje.

  2. Brickmann, parabéns pela usual assertividade e pertinência dos argumentos! Vivemos tempos sombrios e, apesar de constantemente indicarmos o caminho para a Luz, nos frustramos com a cegueira crônica e mais contagiosa ainda que o próprio vírus. Mas, enquanto tivermos vozes como a sua e de outros abnegados na busca da Verdade, ainda haverá esperança

  3. Sua majestade P. Guedes é o cara que, em proveito próprio, repete ad nauseam a lenda do ‘é a economia, estúpido’. O capitão é apenas o bronco que foi financiado por uma elite macroempresarial poderosa para acreditar nesse mantra liberal – e ele acredita, desde que bem remunerado, em qualquer coisa. Mas não adianta nos comparar com o que acontece no antigamente denominado Primeiro Mundo. Lá (onde ‘A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo’ significam algo), ainda conhecem verniz. No antigamente denominado Terceiro, no entanto, o buraco é muito mais embaixo. Por aqui, superfluidades como a vida, p.ex., não podem interferir no lucro, e o que importa é o dinheiro no caixa de quem patrocina o espetáculo de ilusões que elege tipos como o capitão. E de uma coisa não podemos acusá-lo: esquecer quem o inventou. O capitão é o personagem que já encontrou seu autor, e gostou. Entre um Dólar e uma vida, a gente já sabe o que eles escolhem. Transformar uma floresta em fogo ou uma população em cemitério, dá no mesmo. A vida não é nada. Não adianta gritar. Enquanto a caixa registradora puder funcionar, essa turma escolhe não ouvir. Nós não somos a Europa nem a América do Norte. Não há verniz que nos cubra.

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