termômetro

Termômetro da sociedade. Por José Horta Manzano

Que as redes se tornaram o termômetro maior da sociedade mundial, ninguém há de discordar. Pois essas redes às vezes me parecem um tanto hipócritas. Ou estarão desnorteadas.

A foto acima circulou pela internet. É um instantâneo do círculo mais chegado a Bolsonaro, colhido no show que a cantora Madonna estrelou sábado passado no Rio de Janeiro. Em princípio, seria mais uma imagem banal, semelhante a milhares de outros selfies tirados durante o concerto da diva. Mas este aqui tem uma carga diferenciada, como se diz hoje em dia.

As redes dos bolsonaristas se interessam por tudo o que diz respeito ao Jair, ídolo deles. Pois eles torceram o nariz para a foto, que elevou o nível de tensões internas preexistentes na extrema direita.

Entre os admiradores do capitão, forte contingente idealiza um mundo ideal, sem pecados, sem erotismo, todo regradinho, sem desvios comportamentais de natureza sexual. A estrela do show de sábado não é conhecida por seu puritanismo. Bem ao contrário, nunca escondeu suas ideias de mulher liberada, empoderada, livre de preconceitos de ordem sexual.

… Termômetro…Como de costume, a confraria é composta unicamente de homens brancos (ou quase brancos). É um conciliábulo em que diversidade não entra.

Ora, ver que os colaboradores mais próximos do capitão – incluindo seu advogado pessoal – assistiram a um espetáculo a tal ponto ímpio deu frio na barriga de muito bolsonarista radical. A luta pela decência moral e contra toda desenvoltura sexual, razão de ser de todo cidadão de extrema direita, não combina com o escândalo dado pelos integrantes do primeiro escalão da seita bolsonárica que assistiram ao show de Madonna e ainda ousaram tirar essa foto com tanto sorriso.

Compreende-se que os demais seguidores do capitão, que se inteiraram do acontecido pelas redes, tenham ficado chocados e desorientados.

Quanto a nós, que não rezamos por essa cartilha, o que salta aos olhos são outros detalhes reveladores.

  • Como de costume, a galera vem do clube da testosterona, onde menina não entra. Para eles, lugar de mulher é certamente em casa, cuidando da numerosa prole. Como Deus manda.
  • Como de costume, a confraria é composta unicamente de homens brancos (ou quase brancos). É um conciliábulo em que diversidade não entra. As esposas? Decerto em casa, cerzindo as meias.

Agora dá pra entender como é que Madonna consegue reunir um milhão e meio em Copacabana. Ela, que não é boba, não faz diferença entre espectadores de esquerda ou de extrema direita. Quer que venham todos, desde que aplaudam.

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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

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