Escola sem partido IV. Por Meraldo Zisman

 Escola sem partido IV

(Arquitetura e Escola)

MERALDO ZISMAN

Todas as mudanças a serem feitas na arquitetura das escolas deverão direcionar-se às novas formas de se pensar a educação.  Em lugar de estarmos discutindo escola com ou sem doutrinação ideológica, prática que lembra a velha anedota do indivíduo cujo maior desejo era ser marinheiro…

 

Para que servem prédios escolares com seus pátios de recreio, salas de aula, auditório, bibliotecas, laboratórios, se os próprios saberes se transformaram em estruturas que não são mais válidas para o ensino? Se o que se ensina pertence a um passado que não volta mais?…

De um lado a pressão de uma sociedade cujo estilo de vida é pautado pelas mídias sociais. De outro, mudanças fisiológicas hormonais complexas em crianças e adolescentes, difíceis de se interpretar ou controlar.

O dia a dia das crianças e jovens deste contemporâneo é essa combinação de mudanças que se sucedem em velocidade jamais vista.

No Brasil, creio que o perfil dos alunos são tão dispares que seria impossível tratá-los como se fossem de um mesmo país.

Tratando especificamente do espaço das salas de aula, na maioria dos nossos educandários elas ainda permanecem na Idade Média com o “professor de estrado” e fileiras de bancas escolares voltadas para o mestre que se situa à frente de um quadro negro que nem negro é mais, é geralmente verde.

As escolas particulares adicionam, quando muito, um projetor de slides, PowerPoint e outras geringonças e técnicas pedagógicas de conteúdo hoje suplantado. Chamo esta arquitetura de sala de aula de Sala Magister dixit (O mestre o disse), expressão latina que pode ser utilizada quando se procura construir um argumento referindo-se a uma autoridade tida como inquestionável. Aliás é bom esclarecer que no contexto democrático ocidental atual a expressão magister dixit é frequentemente utilizada de forma irônica.

Permanece como inexistente a revolução recente que transformou a pedagogia e o espaço do ensino em todos os níveis, transformação essa no mínimo tão poderosa quanto o aparecimento da imprensa e da escrita.

As salas de aula ainda são construídas como no passado, quando o formato era inspirado no livro e para o livro, para não dizer da época em que criaram o alfabeto.

Com muita frequência o aluno de hoje não sabe se manter em sala de aula, mexe-se e conversa sem parar pelo Facebook, WhatsApp, Instagram, Facebook e outros ‘avanços’ técnicos-cibernéticos.

Os mestres-escolas (o corpo docente) não desenvolveram novos laços sociais que permitam conviver com os alunos,  nestes tempos cada vez mais informatizados e insistem em transmitir conceitos que estão, pela linguagem binária, à disposição de todos a um simples clique (toda a informação e tudo o que o seu computador está fazendo neste exato momento está sendo processado em dados compostos apenas por 0 e 1).

Ao lado disso temos docentes que insistem em lecionar os restos mortais de uma época desconhecida e incompreensível para os jovens.

O mundo mudou, mudou tanto que os jovens necessitam reinventar a roda, mas os mestres parecem que se esquecem de que as crianças e jovens também mudaram. Tendo isso em vista, como é possível basear as necessárias reformas em modelos há muito tempo superados?

As gerações mais velhas continuam a tentar incutir nos jovens certos fatos e acontecimentos ultrapassados. Tudo o que ficou para trás, antigo, obsoleto ou fora de moda.

Permitam-me lembrar que a criação e a estruturação de uma Sociedade, qualquer que seja ela, principia pela maneira de pensar. Por isso, o sistema educacional atual foi projetado para atender à cultura do livro, da escrita, do rádio e da televisão.

Todas as mudanças a serem feitas na arquitetura das escolas deverão direcionar-se às novas formas de se pensar a educação.

Em lugar de estarmos discutindo escola com ou sem doutrinação ideológica, prática que lembra a velha anedota do indivíduo cujo maior desejo era ser marinheiro. Comprou uma farda de marinheiro e, depois de vesti-la, percebeu que lhe faltava o navio…

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).

 

 

 

1 thought on “Escola sem partido IV. Por Meraldo Zisman

  1. SENSACIONAL!!! SIMPLESMENTE, O SR. DISSE AQUI, O QUE TODOS OS DE MINHA GERAÇÃO,
    SALVO AS EXCEÇÕES, DIRIAM. QUE VENHAM OS NÚMEROS V, VI, VII, VIII… NO AGUARDO.
    PARABÉNS!

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